HISTÓRIAS DE ESPIRITUALIDADE

HISTÓRIAS DE ESPIRITUALIDADE
A SABEDORIA DOS MESTRES

terça-feira, 20 de outubro de 2015

QUEM SOU EU? - PARA QUE QUERES TU UM "EU"?



- Mestre, quem sou eu?
O Mestre respondeu:
- És um tolo. Para que queres tu um “eu”?




DISTINGUIR UM MESTRE VERDADEIRO DE UM FALSO



Dois sannyasin encontraram-se. Um era bem mais idoso do que o outro.
O mais velho questionou o mais novo:
- Para onde te diriges irmão?
- Procuro um verdadeiro Mestre - respondeu o jovem.
Passaram alguns dias juntos, e o mais velho considerou ser esse o momento adequado para partir. Tinha chegado a hora da separação.
O jovem perguntou:
- Para onde vais? Qual o teu destino?
- É um destino sem destino; vou continuar a minha busca.
- Qual?
- A de encontrar um discípulo maduro. Encontrar alguém assim, é como encontrar agulha num palheiro. Muito poucos são os homens capazes de distinguir um Mestre verdadeiro de um falso, talvez um em dez milhões.




O MENDIGO E O AVARENTO



Um mendigo bateu à porta da casa grande da aldeia. O dono abriu, e aquele disse:
- Poderá o senhor dar-me um pedaço de pão com que alivie a fome?
O senhor respondeu:
- Não, não sou padeiro, vai-te a outra casa.
- E, se for um pouco de carne? - volveu o mendigo.
- Claro que não. O que é que te faz pensar que eu seja carniceiro?!
- Uma tigela de farinha?
- Será que esta casa tem a aparência de um moinho?
O mendigo não estava disposto a desistir:
- Pelo menos dais-me uma moeda?
- Aqui não está instalado nenhum banco!
Perante tanta resposta negativa, disse o mendigo:
- Já que nada tendes para me dar, peço-vos humildemente que me deixeis descansar um pouco à sombra na vossa casa, o sol queima e eu estou extenuado.
Vendo que assim nada perderia, o avarento concordou apesar de contrafeito, e disse:
- Senta-te ali, na sala.
O homem entrou, dirigiu-se para a cadeira que lhe tinha sido destinada pelo dono, mas em vez de se sentar, baixou as calças e começou a fazer as necessidades no tapete persa.
- O que é que fazes, enlouqueceste, quem pensas que és? - bradou com indignação e encolerizado o proprietário.
O mendigo respondeu:
- Num lugar como este, tão inútil, não vislumbro mais nada para fazer além de cagar.




NASRUDIN - JUSTIÇA PRÁTICA...



Um comerciante em viagem entrou com a sua caravana numa cidadezinha do interior do país. Acometido por intensa cólica intestinal, não se conteve e fez as suas necessidades bem em frente ao templo.
Surpreendido por alguns populares, foi levado à presença do juiz, que era Nasrudin.
Este perguntou-lhe:
- Era sua intenção ofender-nos com tal acto? Era sua intenção ofender a nossa sagrada religião e todos os que a professam?
O comerciante respondeu:
- Não eminência, nunca. Respeito e sempre respeitei os costumes e crenças dos lugares por onde viajo. No entanto, padeci de tal dor de ventre, que não me consegui conter.
O juiz olhou-o longamente e, perante a evidente sinceridade do réu, preparou-se para proferir sentença.
Perguntou:
- O que é que o senhor prefere? Um castigo físico ou uma pena de multa?
- Uma multa, meritíssimo. 
Nasrudin disse:
- Nesse caso, condeno-o ao pagamento de um denário.
O comerciante retirou da sua bolsa uma moeda, outra e ainda outra, dizendo:
- Senhor, tenho apenas uma moeda de dois denários. Partamo-la ao meio ficando o tribunal com metade, assim se fazendo justiça.
Nasrudin pegou na moeda de ouro, olhou-a calmamente e disse:
- Não! Esta moeda não deve ser partida. O tribunal arroga-se o direito de ficar com ela, concedendo ao réu o direito de no dia de amanhã voltar a fazer as suas necessidades diante da porta do templo.




A PREVISÃO DO FUTURO - CONFÚCIO



Perguntaram a Confúcio:
- Poderemos prever o que irá ocorrer dentro de dez gerações?
Confúcio respondeu:
- Os reis da dinastia dos Yin herdaram os costumes dos reis de Hia; e sabemos bem o que lhes fizeram acrescer e o que suprimiram.
A dinastia dos Tcheu herdou os costumes dos Yin e sabemos o que lhes acrescentaram e suprimiram.
Podemos daí concluir como se irão comportar os herdeiros dos Tcheu, sejam eles quais forem, à distância de cem gerações.




ATINGIR A PERFEIÇÃO - CHUANG TSE



- Mestre, que devo buscar para atingir a perfeição? A minha mente vagueia na escuridão dos infernos e não vislumbro luz ao fundo do túnel.
Chuang Tse, respondeu:
- Não procures a fama. Não faças planos. Não te absorvas em actividades. Não penses que sabes. Fica consciente de tudo o que é e vive no infinito. Vagueia onde não há caminho. Sê tudo o que o Céu te deu, mas age como se não tivesses recebido nada. Sê vazio, é tudo. A mente do homem perfeito é como um espelho. Não apanha nada. Não espera nada. Reflecte, mas não segura. Por isso, o homem perfeito pode agir sem esforço.




O QUE CONFÚCIO NÃO SUPORTAVA



Confúcio disse:
- Eis o que eu não suporto:
Um administrador de espírito curto;
Aquele que cumpre os ritos, mas não tem piedade;
Aquele que observa o luto, mas não sente pena alguma. 




NASRUDIN - NÃO-SIM



A mulher de Nasrudin acusou-o em tribunal de a ter agredido.
Citado para comparecer em audiência de julgamento, preparou mentalmente as respostas:
“Se o juiz me perguntar se lhe bati, afirmarei peremptoriamente que não.
Se me perguntar se não lhe bati, responderei sem hesitações que sim.
Tão fácil quanto isto.”
Na audiência, o magistrado questiona-o:
- Senhor Nasrudin, o senhor deixou de bater na sua mulher?
Nasrudin não esperava a pergunta. Confuso e surpreso, respondeu:
- Não-sim!




FICAR SENTADO E ESQUECER - CHUANG-TSE



- Qual é o segredo da tua tranquilidade? - perguntou um discípulo a Chuang Tse.
Este respondeu:
- Fico sentado e esqueço.
- Que queres com isso dizer, Mestre?
- Não estou ligado ao corpo e desisto de qualquer intenção de conhecer. Libertando-me do corpo e da mente, torno-me Um com o infinito. É isso que quer dizer ficar sentado e esquecer.





NÃO QUERER OS PROBLEMAS DOS OUTROS



Estando Nasrudin em casa, sentiu leves ruídos e apercebeu-se da presença de um ladrão que havia entrado furtivamente.
Escondeu-se num recanto. O salteador foi carregando tudo o que se lhe apresentava pela frente e que tivesse algum valor. Findo o acto de pilhagem, Nasrudin seguiu-o até à sua casa, bateu à porta e com educação, disse:
- Agradeço-te que tenhas transportado todos os meus bens. Fizeste com que libertassem espaço na minha humilde residência, onde tanto eu quanto a minha família vivíamos angustiados com tal aglomeração e consequente falta de espaço. A tua casa é muito mais ampla e agradável que a de nossa família. Assim, poderemos viver todos nesta tua residência. Não sei como te hei-de agradecer. Vou de imediato buscar minha mulher e meus filhos para que também eles possam usufruir da tua hospitalidade.
O larápio inquietou-se perante tal ideia, e balbuciando disse:
- Leva tudo. Carrega tudo de novo e fica com a tua família e com todos os vossos problemas.




A ACEITAÇÃO DA ADVERSIDADE - CONFÚCIO



- Mestre, o que é a aceitação da adversidade?
Confúcio disse:
- Aquele que se contenta com arroz e legumes para a sua refeição, com água como bebida, e o braço para almofada da cabeça, encontrará alegria em todas as coisas, mesmo no que denominamos má-sorte.
As riquezas e as honras indevidamente obtidas mais não são do que uma nuvem que passa velozmente movida por fortes ventos.




VOLTAR-SE OU NÃO NA DIRECÇÃO DE MECA



Um homem questionou Nasrudin:
- Diz-me Nasrudin, quando fazes as tuas abluções no rio, como procedes?
Nasrudin respondeu:
- Simples, tiro a roupa e mergulho.
- Mas, mesmo dentro de água voltas-te na direcção de Meca, não é assim?
Nasrudin pestanejou, coçou a cabeça, e disse:
- Pode acontecer, pode acontecer... Mas, em regra, viro-me para o local da margem onde depositei as roupas, não vá algum ladrão levar-mas.




UM LIBERTO-VIVO NOS HIMALAIAS



Um estudioso da espiritualidade, autor de numerosos livros e artigos, ouviu falar de um homem santo que vivia algures nos Himalaias e era considerado um liberto-vivo.
Sentiu uma enorme necessidade de o conhecer. Nos tempos actuais, apenas existiam relatos e ensinamentos escritos de tais seres. Conhecer um, ainda em vida, seria facto notável.
O investigador encetou longa jornada, e encontrou o santo à entrada de uma gruta, sentado debaixo de frondosa árvore.
Não se contendo, começou de imediato a interrogá-lo, após breve apresentação:
- Diz-se que o senhor é um liberto-vivo. Antes de atingir este estado, tinha momentos de depressão e angústia, momentos em que tudo lhe parecia não ter sentido, em que a existência se apresentava como algo absurdo?
O liberto-vivo, com afável sorriso, disse:
- É evidente, tal como acontece com todos os seres humanos.
Volveu o investigador:
- E neste momento, tendo atingido a libertação, ainda tem momentos em que a depressão o acometa? 
O santo respondeu:
- Evidentemente, como a toda a gente. Mas, agora, isso não tem qualquer importância para mim.




ALÁ NÃO ESTÁ EM MECA - SUFI BASTAMI



O Sufi Bastami, apesar da sua pobreza, projectou realizar uma peregrinação a Meca.
Antes de partir, encontrou um dos seus antigos Mestres, homem idoso, de profunda sabedoria. Este, conhecendo as intenções de Bastami, questionou-o:
- O que é que te leva a viajar até Meca?
Bastami respondeu:
- Julgo que este é o momento apropriado. Considero estar espiritualmente preparado para ver Deus.
O velho Mestre olhou fixamente para o seu antigo discípulo, e disse:
- Dá-me o dinheiro que juntaste para a viagem.
Bastami, por reverência, obedeceu.
Então, já na posse da quantia destinada aos custos da peregrinação, disse:
- Chegado a Meca, darias sete voltas à pedra sagrada. Quero que dês as mesmas voltas em meu redor.
Bastami, apesar de perplexo, deu as sete voltas em redor do seu Mestre, que continuou:
- Já atingiste o que te propuseste. Não necessitas de viajar. Estou certo, que desde que o santuário foi construído, Alá não residiu nem por um momento em qualquer das suas partes, inclusivamente na pedra sagrada. No entanto, esteve e estará sempre no coração do homem. Retorna a tua casa, torna-te atento e faz uma viagem ao teu coração. Aí verás o que nunca conseguirás ver em Meca: Deus.




DOUTRINAS DE - CONFÚCIO - BUDA - LAO TSÉ



Existe um quadro taoísta, que ilustra a cena de três homens reunidos numa mesa, com um jarro de vinagre, bebida que provam.
O primeiro faz uma espécie de careta, considerando a bebida amarga.
O segundo, do mesmo modo, tem uma expressão de profundo desagrado, em virtude da bebida lhe parecer ácida.
O terceiro, admirando a sua excelência, tem uma expressão radiante, de felicidade.
Há quem diga que o vinagre é a vida e que os três homens são Confúcio, Buda e Lao-Tsé.
O primeiro, Confúcio, julga que a vida é algo terrífico, sendo absolutamente necessário criar cerimoniais, a que os homens se submetam.
O segundo, Buda, diz-nos que a vida é amarga, é sofrimento praticamente em todas as suas vertentes, tendo o homem que se libertar de desejos e apegos, de modo a atingir o nirvana, o estado de não-sofrimento.
O terceiro, Lao-Tsé, é optimista e segue o fluxo contínuo da vida. A vida depende em última instância do pensamento que dela tem. Ele é a própria vida e a vida é ele mesmo. 




O ZEN E O MEDO DA MORTE - MESTRE NAN-IN



- O que é o Zen? Perguntou um médico a um estudante do Zen.
- Não sei bem, mas julgo que se o compreenderes perderás o medo da morte.
- Vou procurar um Mestre.
- Procura Nan-In - disse o estudante.

- Quero praticar Zen - disse o médico a Nan-In.
- Vai para casa, e cuida com bondade dos teus doentes, da tua família.
- Como poderei assim, perder o medo da morte?
- Digo-te, cuida com diligência e amor dos teus doentes, esse é o Zen que buscas. Agora, vai-te.
Perante a insistência do médico, Nan-In, deu-lhe um Koan para meditar.
Isso absorvia-o, mas cada vez cuidava melhor dos seus pacientes, e sem que por tal desse, libertou-se das suas estúpidas preocupações com a morte.




UM POEMA DE RIONENE - FAMOSA MONJA BUDISTA



Rionene, cujo nome quer dizer “compreender claramente”, foi uma monja Budista famosa pelo seu conhecimento do Zen.
Quando estava prestes a deixar este mundo, escreveu este poema:

Sessenta e seis vezes viram estes olhos o mutável cenário do Outono.
Do luar disse já o bastante,
Não perguntes mais.
Ouve apenas a voz dos pinheiros e dos cedros quando não há vento.




A SUA MENTE É BUDA - BUDA NÃO É A SUA MENTE



Um dos maiores Mestres Zen do Japão afirmava com constância, dizendo ser esse o seu maior ensinamento:
“A sua Mente é Buda.”
Um monge decidiu abandonar o mosteiro, instalando-se numa gruta das montanhas, e durante vinte anos viveu meditando nesta máxima.
Um dia, encontrou na floresta, um outro monge, que havia estudado com o mesmo Mestre e que se dedicava à meditação exaustiva da sua principal doutrina.
Questionado sobre esse ensinamento, este respondeu:
- O Mestre foi muito claro. O seu maior ensinamento é: “Buda não é a sua Mente.”




PRIMEIRA LIÇÃO NA ARTE DE FURTAR



O filho de um famigerado ladrão pediu ao pai que lhe ensinasse os segredos de tão difícil ofício.
O pai anuiu, e a coberto da noite, levou-o a imponente casa onde todos dormiam.
No seu interior, pediu ao filho aprendiz que entrasse num vasto armário, cheio de roupas luxuosas, buscando valores. Mal entrou, fechou-o e, saiu apressadamente da mansão, fazendo muito ruído e batendo estrondosamente com a pesada porta de entrada, de modo a acordar os proprietários e a criadagem.
Passaram horas, até que o filho exausto chegou indignado, dizendo:
- Pai, porque é que me prendeste no armário e me abandonaste sujeitando-me a ser espancado, preso e torturado? Desesperado, tive de utilizar todos os artifícios e manhas para conseguir sair ileso daquela casa. Não fora o sangue-frio que de mim se apoderou, e cuja origem desconheço, que de lá não sairia como saí.
O pai sorriu:
- Meu filho, foi esta a tua primeira lição na árdua arte de furtar.




MESTRE RYOKAN - O TEMPO É CRUEL



Ryokan teve conhecimento de que um seu sobrinho, incumbido de administrar os bens da família, os estava a dissipar com meretrizes, numa vida dissoluta. Os familiares pediram-lhe que por sua sabedoria interviesse.
O Mestre viajou para se encontrar com o jovem perdulário.
Chegado a sua casa, aí pernoitou, sem que pronunciasse palavra sobre os reais motivos da visita. De manhã, preparando-se para sair, disse ao sobrinho:
- Estou velho, minhas mãos tremem. Será que me auxilias a atar as minhas sandálias?
O sobrinho fê-lo de bom grado.
- Obrigado. Como vês, cada dia que se apaga torna um homem mais velho, mais frágil, como uma fortificação que perde as suas defesas. Cuida-te com atenção. O tempo é cruel.
Sem mais palavras, sem qualquer outra recomendação, partiu.
A partir desse dia, o comportamento esbanjador do sobrinho findou por completo.





PARÁBOLA DA OVELHA PERDIDA



Qual é o homem dentre vós, que, possuindo cem ovelhas e tendo perdido uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai à procura da que se havia perdido, até a encontrar? Ao encontrá-la, põe-na alegremente aos ombros e, ao chegar a casa, convoca os amigos e vizinhos e diz-lhes:
“Alegrai-vos comigo, porque achei a minha ovelha perdida.”
Digo-vos Eu:
“Haverá mais alegria no Céu por um só pecador, que se arrepende, do que por noventa e nove justos, que não necessitam de arrependimento.”

Lc. 15, 4-7 

Esta parábola foi dirigida a escribas e fariseus que comentavam o facto de Jesus acolher os pecadores e comer com eles.




AJUDAR OS OUTROS A ENCONTRAR O CAMINHO



Dois homens estavam perdidos no deserto. Morriam de sede e de fome. Por fim, avistaram um muro alto. Do outro lado o sussurrar de belas cascatas e pássaros cantando sublimes melodias.
Por cima do muro, pendiam galhos de árvores, repletos de frutos deliciosos.
Um dos homens saltou imediatamente para o outro lado, desaparecendo naquela imensa e apetecível beleza.
O outro saciou-se com os frutos suculentos que pendiam, e retornou ao deserto para auxiliar os que se perdem, a encontrar o caminho do Oásis.




PARÁBOLA DA REDE



O Reino dos Céus é ainda semelhante a uma rede que, lançada ao mar, apanha toda a espécie de peixes. Logo que ela se enche, os pescadores puxam-na para a praia, sentam-se e escolhem os bons para as canastras e os ruins, deitam-nos fora. Assim será no fim do mundo: Sairão os anjos e separarão os maus do meio dos justos e lançá-los-ão na fornalha ardente. Ali haverá choro e ranger de dentes.

Mt. 13, 47-50




EU SOU A CHUVA



Chovia. Na cabana Mestre e discípulos.
- Que som é o que ouço no exterior?
- É a chuva.
O Mestre disse:
- Quando buscamos as coisas e seres fora de nós mesmos, estas confundem-se com os significados.
Eu sou a chuva.




PARÁBOLA DA PÉROLA



O Reino dos Céus é também semelhante a um negociante que busca boas pérolas. Tendo encontrado uma pérola de grande valor, vende tudo quanto possui e compra a pérola.

Mt. 13, 45-46




PARÁBOLA DO TESOURO ESCONDIDO



O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem encontra, mas torna a esconder. Cheio de alegria, vai, vende tudo o que possui, e compra o campo.

Mt. 13, 44




A DIFERENÇA ENTRE UM ERUDITO E O POVO DO CAMINHO - A TARIQA



Em tempos, existiu um Sultão que se dedicava com diligência ao estudo das Turuq, e questionou o vizir:
- Diz-me, qual a diferença entre um erudito, e o Povo do Caminho?
- Majestade, se quiserdes, esta noite conduzir-te-ei a um local onde te aperceberás pela própria experiência, da diferença que queres ver aclarada.
Vestiram ambos roupas para se confundirem com pessoas comuns e deslocaram-se a uma casa onde estava programada uma reunião de eruditos e de homens da Tariqa. Foram dos primeiros a chegar e sentaram-se humildemente num dos cantos da sala.
Entrou um homem a quem o vizir perguntou:
- Mestre, quem é o primeiro dos eruditos?
- Não me reconheceis, não sabeis quem sou? Eu sou o primeiro!
Veio um segundo que foi interrogado da mesma forma, e que respondeu:
- Que pergunta é essa? Bem sabes que sou eu!
Não havia erudito que não se reconhecesse como o “primeiro”.
Mais tarde, começou a chegar o povo das Turuq.
O vizir aproximava-se e dizia:
- As salaam alaykum, oh meu irmão, oh shaykh Naqshbandi! Quem é o shaykh mais importante da Tariqa?
- Está a chegar depois de mim.
O que veio a seguir respondeu o mesmo, e todos os que iam chegando, o mesmo responderam.
Chegado o último, disse:
- Eles já passaram.




PARÁBOLA DO FERMENTO



O Reino dos Céus é semelhante ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha, até que tudo esteja fermentado.

Mt. 13, 33




QUEM É QUE SE MOVE? - KOAN ZEN



Quem é que se move:
O vento?
As folhas da árvore?
A Mente?

Koan Zen




PARÁBOLA DA SEMENTE



O Reino de Deus é como o homem que lançou a semente à terra. Quer esteja a dormir, quer se levante de noite e de dia, a semente germina e cresce, sem ele saber como. A terra produz por si, primeiro o caule, depois a espiga e, finalmente, o trigo perfeito na espiga.
E, quando o fruto amadurece, logo ele lhe mete a foice, porque chegou o tempo da ceifa.

Mc. 4, 26-29




PALAVRAS DE BUDA - A POSIÇÃO DE REIS E DE GOVERNANTES COMO GRÃOS DE AREIA...



Buda terá dito aos seus discípulos:
“Considero a posição de reis e de governantes como a de grãos de poeira. Olho tesouros de ouro e pedrarias como tijolos e seixos. Encaro os vestidos da mais fina seda como andrajos esfarrapados. Vejo a miríade de mundos do universo como pequenas sementes de frutos, e o maior lago da Índia como uma gota de óleo no meu pé. Entendo que os ensinamentos do mundo são ilusões de mágicos. Distingo o mais elevado conceito de emancipação como um brocado dourado num sonho, e encaro o caminho sagrado dos iluminados como flores que aparecem nos nossos olhos. Vejo a meditação como um pilar de uma montanha, e o Nirvana como um pesadelo em pleno dia. Considero o juízo sobre o certo e o errado como a dança serpenteante de um dragão, e o nascer e desaparecer de crenças como os vestígios deixados pelas quatro estações.”




NANGAKU E BASO - A MEDITAÇÃO



Baso praticava meditação durante horas a fio.
Seu Mestre, Nangaku, perguntou-lhe:
- Porque é que meditas com tanta insistência?
- Para me tornar num Buda.
Nangaku, apanhou do chão uma velha telha e começou a esfregá-la com uma pedra.
- Que fazeis, Mestre, com a telha?
- Estou a tentar fazer um espelho - respondeu.
- Impossível, será sempre uma telha, apenas a desgastais.
- O mesmo se passa contigo, Baso. Por mais que medites, não te transformarás num Buda.
- Como devo agir?
- É como fazer que um boi ande.
- Não te compreendo, Mestre.
- Quando queres que o carro de bois ande, em quem bates, no boi ou no carro?
Perante o silêncio de Baso, continuou:
- Buscar o Buda, apenas pela meditação, é matar o Buda.





ESTOU AQUI, ESTOU SIMPLESMENTE AQUI...



Três homens em viagem viram um monge sentado no cume de um monte.
Curiosos interpelaram-no:
- Bom dia santo homem, estais em oração?
- Não.
- Se não orais, aguardais alguém?
- Não.
- Então, respirais o ar puro?
- Não.
- Desfrutais a paisagem?
- Não.
- Não entendemos, que fazeis então neste ermo?
- Estou aqui, estou simplesmente aqui... – respondeu o monge.




O GRANDE GENERAL KITAGAKI E O MESTRE DO TEMPLO DE TOFUKU



Um dos maiores generais do exército imperial foi visitar um seu amigo, superior do templo de Tofuku.
De modo desdenhoso, como quem comanda soldados, disse a um monge ainda muito jovem:
- Diz ao teu Mestre, que o Grande General Kitagaki pretende vê-lo.
O monge transmitiu a mensagem e retornou junto do general, dizendo:
- Peço desculpa, mas o Mestre não o irá receber, não conhece nenhum Grande General.
Após reflexão, o general, disse:
- Desculpe a minha arrogância, jovem. Diga ao seu Mestre, que Kitagaki deseja vê-lo.
De imediato surgiu o Mestre, que de braços abertos e efusivamente o cumprimentou:
- Kitagaki, há quantas luas estes meus velhos olhos não te enxergam; grande é a minha alegria. Entra meu bom amigo.





O LADRÃO TRANSFORMADO EM DISCÍPULO DO MESTRE ZEN



Numa noite de Verão, um Mestre Zen recitava concentrado os Sutras.
Um ladrão de espada em punho entrou na sua casa e exigiu-lhe todo o seu dinheiro.
- Não me incomodes. Não vês que recito os sutras. O dinheiro está na gaveta de cima do móvel que tens à tua frente.
Instantes depois, volveu:
- Não leves todas as moedas. Deixa as necessárias para que eu amanhã possa pagar os impostos. Tudo, menos o dinheiro do Imperador; não quero ficar em falta para o Tesouro.
O intruso já saía, quando o Mestre o advertiu:
- Não é bom costume agradecer, quando alguém nos faz uma doação?
O ladrão, confuso, agradeceu gaguejando.
Passaram-se alguns dias e foi preso, tendo confessado no cárcere inúmeros delitos, entre os quais, o perpetrado em casa do Mestre Zen. Este, chamado a depor como ofendido, disse ao Magistrado:
- No que a mim me toca, este homem não é salteador.
Eu próprio lhe doei as moedas que levou de minha casa, ao que ele, inclusivamente, me agradeceu.

O criminoso foi condenado por outros crimes, e após cumprimento da pena de prisão, tornou-se num dos discípulos mais dedicados do Mestre.




RIQUEZA - NA CAMA ENCHARCADA DE URINA



Existiu um pobre homem, cuja ânsia de ficar rico era tamanha, que passava com tal fito os dias em oração.
Em dia invernoso, no gelo do caminho, deparou-se-lhe meia enterrada choruda bolsa de moedas. As suas orações haviam sido atendidas.
Puxou-a, mas malgrado os seus múltiplos e constantes esforços, não se movia. Lembrou-se de urinar à sua volta, derretendo o gelo circundante. 

Foi aí, que despertou na cama encharcada de urina.




VISHNU E OS TRÊS DESEJOS



Vishnu decidiu conceder a um devoto três desejos. 
Este começou por pedir a morte da esposa para que se casasse com uma mais nova.
No funeral, familiares, amigos e conhecidos, exaltavam as qualidades da falecida.
O devoto cai em si; nunca conseguiria encontrar uma esposa como a que havia ignobilmente rejeitado. 
Pediu a Vishnu a segunda graça: 
- Senhor, ressuscita a minha mulher.
Faltava o terceiro desejo, mas as hesitações sucediam-se.
Vishnu, apiedando-se do pobre devoto, aconselhou-o: 
- Pede a graça de reconheceres todo o bem e beleza que se encerra nas pessoas e coisas que te rodeiam.





DE TODOS OS HOMENS QUEM SOFRE COMO EU?



Um pobre sem-abrigo dizia:
- De todos os homens, quem sofre como eu, quem vive nesta angústia?
Um burro que passava respondeu-lhe:
- Insensato, porque te lamentas tu?
Desaparece e agradece a Alá, que embora asno não montes, não és burro em cima do qual outros homens montem ou deponham pesados fardos.




PREFIRO DORMIR À NOITE



Dois irmãos pobres adquiriram um par de sapatos combinando o seu uso alternado.
O mais novo insistiu em que os usaria sempre durante o dia. O mais velho, permissivo, apesar de visivelmente contrariado, anuiu em utilizá-los à noite.
Passado algum tempo, os sapatos estavam rotos e inutilizáveis.
O mais novo propôs a compra de um novo par.
O mais velho, peremptório, disse:
- Chega. Não quero mais sapatos.
Prefiro dormir à noite.




NASRUDIN ZANGADO COM A MULHER



Nasrudin teve uma zanga com a mulher.
Esta, irritada, aqueceu-lhe a sopa em demasia aguardando que o Mullah se queimasse na boca no momento de a comer.
Serviu-a, mas esquecendo-se do feito foi ela a queimar-se. Tal a dor que chorou.
Vendo-a assim, disse Nasrudin:
- Porque choras, mulher?
- Ah, minha pobre mãe antes de falecer comeu uma sopa assim. Choro com saudade.
Nasrudin, elucidado e esfomeado, lançou-se sobre a sopa e logo as lágrimas lhe correram pelo rosto.
- Porque choras, Nasrudin?
- Choro mulher, porque tua pobre mãe morreu e logo te havia de deixar viva – disse Nasrudin com a voz entrecortada pela dor.




NASRUDIN NO PAÍS DOS CRETINOS



Nasrudin viajou para um país onde abundavam cretinos e idiotas.
Aí pregava:
- Tomai atenção: Detestai o pecado e todo o mal. Pedi a Deus perdão pelas vossas ofensas.
Meses a fio o ia repetindo sem qualquer resultado palpável. No entanto, não desistia. 
Até que um santo dia se espantou com a atitude de alguns que permaneciam imóveis, de braços cruzados.
- Que fazeis? - perguntou.
- Já decidimos o que faremos com o pecado de que tanto falas.
- Renunciais ao pecado e à maldade, decidistes afastar-vos do mal? – questionou-os Nasrudin.
- Não, decidimos afastar-nos de ti.




NASRUDIN E A CAÇADA AOS URSOS



Houve uma caçada aos ursos.
Nasrudin foi convidado e apesar de contrariado por temeroso, acabou por comparecer.
Quando voltou à aldeia, perguntaram-lhe:
- Que tal a caçada, Mullah?
- Excelente, magnífica.
- Quantos matou?
- Eu? Ora, ora… Nem um.
- Quantos perseguiu?
- Nem um.
- Quantos viu?
- Nenhum.
- Então como pode ter sido a caçada excelente?
- Quando caçamos ursos, nenhum é suficiente! – respondeu Nasrudin.




O MOTIVO DA DISCUSSÃO



Já quase amanhecia quando dois bêbados discutiam em alta voz à porta de Nasrudin.
Levantou-se o Mullah, enrolado num cobertor, disposto a acalmar a contenda.
Poucas palavras dissera ainda, quando um dos discutidores lhe arrancou o cobertor com que fugiu, do outro acompanhado.
Nasrudin subiu a casa e a mulher perguntou-lhe:
- Qual o motivo da discussão?
- Acho que por causa do cobertor. Mal um mo furtou tudo terminou – disse.




NUM FUNERAL - NA FRENTE OU ATRÁS DA URNA?



Havia um funeral.
Alguém perguntou ao Mullah:
- Devemos seguir à frente ou atrás da urna?
- Tanto faz, desde que não se esteja lá dentro – respondeu Nasrudin.




A APOSTA DE NASRUDIN



Nasrudin apostou com um grupo de amigos que suportaria uma noite inteira na montanha gelada e coberta de neve sobranceira à aldeia, sem qualquer fogueira ou aquecimento para além da túnica.
Transportou consigo uma vela e um livro.
Foi acometido por frio terrível. Ao raiar da aurora, lívido e depauperado, quis receber o valor da aposta.
Perguntaram-lhe os apostadores:
- Não tiveste nada para te aquecer?
- Não – respondeu.
- Nem uma vela, Mullah?
- Tinha uma vela.
- Assim sendo, perdeste a aposta.
Nasrudin nada argumentou, apesar de notoriamente contrariado.
Decorrido algum tempo convidou-os para uma ceia a que todos compareceram.
Aguardavam na sala a comida que nela tardava. Impacientes, começaram a reclamar.
- Vejamos o que se passa - disse Nasrudin.
Na cozinha, enorme panela cheia de água com uma vela acesa debaixo dela.
A água ainda estava fria.
- Não entendo. Não está quente. Está aí desde ontem…




A CAUSA DOS CABELOS BRANCOS



Nasrudin era criança.
Perguntou ao pai:
- Porque é que o seu cabelo está a ficar branco?
- Por causa de filhos como você. De seus actos e perguntas, quer difíceis quer excêntricas.
- Ah!, percebo. Por isso os cabelos do avô são todos branquinhos como a neve.





PREOCUPADOS COM O QUE OS OUTROS PENSAM



Uns jovens pediram ao Mullah que os ensinasse. Este acordou e levou-os para sua casa.
Montou o jumento de modo contrário, virado para a cauda com os estudantes atrás.
Os passantes espantavam-se:
- Corja de doidos. Vê-se logo, só podia ser o chalado do Nasrudin. Um louco de costas montado seguido por cortejo de idiotas.
Os jovens ficaram envergonhados e interpelaram Nasrudin:
- Porque é que assim vais montado? Todos nos observam e criticam.
-Estais mais preocupados com aquilo que os outros pensam do que com o que fazeis – disse Nasrudin.
Continuou:
- Vejamos em conjunto: Se montasse de modo normal, convosco à minha frente, de costas para mim, seria desrespeitoso.
Se sou eu que à frente indo de costas para vós, desrespeitoso será.
Esta é pois, a única forma correcta.




DESCULPA ESFARRAPADA



Nasrudin bateu no portão do castelo do Senhor da região.
O guarda abriu-o e o Mullah pediu-lhe:
- Diga a vossa Senhoria que peço dinheiro para os pobres.
O guarda entrou e volvidos alguns minutos voltou dizendo:
- Lastimo, o Senhor não está.
- Diga-lhe então - disse Nasrudin -, que lhe ofereço este conselho ainda que nada me tenha dado: Quando seu amo sair não deixe o rosto na janela, não vá alguém roubá-lo.




A VIAGEM QUE FOI DEMAIS...



Nasrudin tinha um amigo que caiu de um prédio alto. 
Sonhou estar no céu onde o encontrou.
No sonho perguntou-lhe o Mullah:
- Como foi amigo?
- O impacto foi horrível, mas a viagem, essa foi demais...