HISTÓRIAS DE ESPIRITUALIDADE

HISTÓRIAS DE ESPIRITUALIDADE
A SABEDORIA DOS MESTRES

domingo, 8 de maio de 2016

A MINHA ORAÇÃO PREFERIDA



No mosteiro da montanha onde o céu se aproximava da terra, um noviço angustiava-se. Nada o satisfazia, nenhuma oração o aquietava, a fé desvanecia-se e o seu amplo sorriso de outrora havia desaparecido.
Um Irmão dos mais idosos, conhecido pela sua abundante felicidade apercebeu-se da inquietação do jovem.
Encontrando-o no jardim contíguo à capela depois de um serviço religioso, questionou-o:
- Que tendes vós meu Irmão? Pareceis atormentado e infeliz. Há algo que possa fazer por vós?
- Vivo numa angústia de morte, Irmão. As estações vão-se sucedendo e a vida vai perdendo para mim todo o sentido e beleza. Busquei Deus fora, busquei-o dentro e se há algum tempo ouvi o seu chamamento agora sinto-o ausente, tão distante quanto o amor e o júbilo que senti ao entrar para esta casa. Sinto que não quero retornar ao mundo, mas que também nada aproveito desta vida que tão entusiasmadamente abracei. Por vezes peço-lhe a morte por caridade – respondeu o noviço com os olhos rasos de lágrimas.   
Volveu o Irmão idoso:
- Refugia-te na oração Irmãozinho. Deus ouvir-te-á.
- As minhas orações mais não são do que insistentes pedidos dispersos ao vento. A Paz afastou-se de mim e o desespero tomou conta do meu coração. Sei que Deus não me dá ouvidos, não alivia o fardo que me consome.
O Irmão ficou em silêncio durante alguns momentos e disse:
- Talvez as tuas orações não sejam atendidas porque exiges ao Senhor o que Ele te não deve ainda dar. Ele sabe bem, antes mesmo de ti, tudo o que necessitas.
- Como devo então orar. Auxilia-me Irmão.

Reza assim, disse:

Senhor, estou aqui, simplesmente aqui, à espera de nada, a querer nada.”


Um ano decorrido e o noviço passou a ser conhecido na comunidade pelo Irmão Místico.





MIRAR O ALVO COM SUCESSO



Existiu um jovem arqueiro que havia vencido todos os torneios em que tinha participado.
Era perito no arco de flechas como ninguém. No entanto, ouvira falar num velho Mestre Zen, que era tido por imbatível, apesar de por via da sua provecta idade não se dedicar à competição. As suas mãos e seus braços não dispunham da energia de outrora, e muito provavelmente a perícia e segurança do jovem o ultrapassaria.
Desafiou-o e com o primeiro tiro colocou a flecha no centro do alvo. Com o segundo, dividiu a primeira ao meio. Depois convidou o Mestre a imitá-lo ou até a suplantá-lo. 
Este intimou-o a acompanhá-lo. Percorreram vários quilómetros de vereda na encosta de uma montanha, até que se depararam com um imenso abismo atravessado por estreito e frágil tronco.
O Mestre começou a caminhar com segurança na tábua que baloiçava, espreitando o abismo infindável. No meio, parou, envergou o arco com determinação e atingiu uma árvore longínqua.
- É a sua vez, bom jovem - disse, enquanto regressava com suavidade da improvisada ponte sobre o despenhadeiro negro.
O jovem ficou inerte. Nem um passo deu na tábua, suas pernas tremiam e suas mãos mal conseguiam segurar o arco.
Disse-lhe o Mestre:
- Já verifiquei que grande é sua perícia com o arco, mas frágil sua estabilidade mental, que nos deve deixar totalmente descontraídos para mirar o alvo com sucesso.




ORAÇÃO SELECTIVA



Um agricultor pediu a um monge que recitasse sutras pela falecida mulher.
- Obterá minha mulher indulgências com a recitação?
- Claro, a tua mulher e todos os seres – respondeu o monge.
Esta ideia não agradou ao camponês. Outros iriam obter as indulgências de que ela tanto necessitava.
- Recita os sutras apenas em sua intenção - disse.
O monge esclareceu-o:
- Não o posso fazer. Um verdadeiro Budista deseja que as suas bênçãos recaiam sobre todos os seres.
- É belo o que dizes, e ultrapassa em muito o que tenho ouvido de outras religiões em que os crentes apenas se preocupam com os seus próprios umbigos. Mas, abre apenas uma excepção. Tenho um vizinho que é rude, grosseiro e mau para mim e para os meus. Exclui-o então, nem que seja só ele o excluído.




SUBUTI - A FORÇA DO VAZIO



Subuti, discípulo de Buda, era dos poucos capazes de entender a força do vazio, o ponto de vista segundo o qual nada existe, salvo na sua relação de subjectividade e objectividade.
Subuti estava sentado a meditar de baixo de uma árvore, quando começaram a cair flores à sua volta.
Ouviu:
- Louvamos-te pelo teu discurso sobre o Vazio.
- Mas eu não discursei sobre o Vazio, não pensei no Vazio... - respondeu.
- Tu não falaste do Vazio. Nós não ouvimos Vazio. Este é o verdadeiro Vazio - disse a voz.
Nisto, uma chuva de flores inundou Subuti.




HOTEI – O CHINÊS FELIZ – SIGNIFICADO E REALIZAÇÃO ZEN



Hotei foi um Mestre Zen, que nunca ambicionou ter discípulos. Andava pelas ruas da cidade e num saco que transportava às costas, ia acumulando rebuçados, fruta, bolos, e outros alimentos que lhe ofertavam e que depois distribuía pelas crianças que brincavam à sua volta. É interessante mencionar, que criou um jardim infantil. Chamavam-lhe o Chinês Feliz.
Quando encontrava no seu caminho gente piedosa, pedia-lhes uma moeda, e quando lhe pediam para permanecer num templo, de modo a ensinar os que se iniciavam na longa caminhada Zen, logo lhes pedia como resposta, uma moeda.
Um dia, andava pelas ruas, na sua costumeira actividade, e passou um Mestre Zen que lhe perguntou:
- Qual o significado do Zen?
Hotei deixou cair o saco no solo como resposta.
Volveu o outro:
- Qual a realização Zen?
Hotei, o Chinês Feliz, colocou o saco aos ombros, e seguiu o seu Caminho de sempre.




SALOMÃO E A FORMIGA



Passava Salomão junto de um formigueiro. Todas as formigas se apresentaram em sinal de submissão.
Apenas uma, atarefada com a contagem de um monte de grãos de areia, não se apressou.
Salomão ordenou que a chamassem, e disse-lhe:
- Formiga, o teu aspecto não é o de quem tenha energia para tal empresa; nem com a longevidade de Noé e com a paciência de Jó poderás levar a cabo o trabalho que empreendeste.
Disse a formiga:
- Grande rei, nesta Via não se pode avançar senão com magnanimidade!




PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO E DO FILHO FIEL



Um homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao pai:
“Pai, dá-me a parte dos bens que me corresponde.”
E o pai repartiu os bens entre os dois. Poucos dias depois, o filho mais novo, juntando tudo, partiu para uma terra longínqua e por lá esbanjou tudo quanto possuía, numa vida desregrada. Tendo gasto tudo, houve grande fome nesse país e ele começou a passar privações. Então, foi servir a um dos habitantes daquela terra, o qual o mandou para os seus campos guardar porcos. Bem desejava ele encher o estômago com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. E, caindo em si disse:
“Quantos jornaleiros de meu pai têm pão em abundância e eu, aqui, morro de fome! Levantar-me-ei e vou ter com meu pai, e digo-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti, já não sou digno de ser chamado teu filho, trata-me como um dos teus jornaleiros.”
E levantando-se, foi ter com o pai. Ainda estava longe, quando o pai o viu, e enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. O filho disse-lhe:
“Pai, pequei contra o Céu e contra ti, já não mereço ser chamado teu filho.”
Mas o pai disse aos seus servos:
“Trazei depressa a mais bela túnica e vesti-lha; ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o vitelo gordo e matai-o; vamos fazer um banquete e alegrar-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e apareceu.”
E a festa principiou.
Ora, o filho mais velho estava no campo. Quando regressou, ao aproximar-se de casa, ouviu a música e as danças. Chamou um dos servos, perguntou-lhe o que era aquilo. Disse-lhe ele:
“O teu irmão voltou e teu pai matou o vitelo gordo, porque chegou são e salvo.”
Ressentido, não queria entrar; mas o pai saiu e instou com ele. Respondendo ao pai, disse-lhe:
“Há já tantos anos que te sirvo sem nunca transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para me alegrar com os meus amigos; e, agora, ao chegar esse teu filho, que gastou os teus bens com meretrizes, mataste-lhe o vitelo gordo.”
O pai respondeu-lhe:
“Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu. Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; estava perdido e apareceu.”

Lc. 15, 11-32




A ILUMINAÇÃO NA SIMPLICIDADE



- Como posso atingir a iluminação? – perguntou o discípulo.
Respondeu o Mestre:
- Realiza com toda a diligência e atenção os actos do quotidiano, mesmo os que consideras como comuns.




PARÁBOLA DA DRACMA PERDIDA



Qual é a mulher que, tendo dez dracmas, se perde uma, não acende a candeia, não varre a casa e não procura cuidadosamente até a encontrar? E, ao encontrá-la, convoca as amigas e vizinhas e diz:
“Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma perdida.”
Assim, digo-vos, há alegria entre os anjos de Deus por um só pecador que se arrepende.

Lc. 15, 8-10




CASTIGO ANTECIPADO



O Mullah enviou um garoto à fonte.
- Vá e não parta o pote.
Nisto deu-lhe uma varada que o fez saltar e bramir de dor.
- Mullah, isso não se faz. Não se bate em quem mal ainda não fez - disse um vizinho.
- Deixe de ser asno. De que serve castigá-lo depois do mal feito?! Que adianto sem água e sem vasilha?
Eu sem bilha e o garoto com bordoada é mal de dois. Assim que seja apenas de um.




UMA ESMOLA POR ALÁ



Nasrudin remendava o seu telhado.
Em baixo, na rua, um faquir solicitou-o a descer. Nasrudin sem questionar desceu.
O faquir pediu:
- Dê-me uma esmola por Alá.
- Podia ter subido para falar comigo - disse o Mullah.
- Tive vergonha...
- Ora, não seja assim. Suba comigo - disse Nasrudin.
Subiram ao cume e Nasrudin continuou o seu trabalho dizendo:
- Não tenho nada trocado para lhe dar.




NÃO PERDER UM BOM NEGÓCIO



Nasrudin estava cansado do seu burro. Levou-o à feira da vila para que o leiloeiro lho vendesse. Ficou para assistir.
O pregoeiro começou: 
- Agora este belo jumento. Forte, musculoso, habituado ao trabalho duro e à tormenta, de suprema inteligência e esperteza.
Quem oferece cinco moedas por tão espantoso animal?
- Cinco moedas?! - pensou o Mullah -, apenas cinco moedas, vou licitar já.
E Nasrudin licitou.
Entre Nasrudin e um quintaneiro fez-se disputa e a cada lance o leiloeiro exacerbava as virtudes do asno, o que entusiasmava o primeiro.
Afinal desconhecia do que seu era, tanta qualidade e virtude.
Com o tempo a decorrer, ofereceu quarenta moedas arrematando o jumento que apenas dez valia.
Pagou a comissão de um terço ao leiloeiro, pegou no burrico e dirigiu-se a casa dizendo para os seus botões:
- Se coisa há que não perco é um bom negócio.




NASRUDIN E O EMPRÉSTIMO DE PANELAS



Nasrudin emprestou duas panelas.
O amigo, homem de humor devolveu-lhas com uma outra panela bem mais pequena.
- Que se passa? Esta não é minha!
- Bem pelo contrário. Estando suas panelas à minha guarda por motivo de empréstimo, nasceu delas este rebento que por direito é seu – respondeu o homem de humor.
Decorridos meses, pediu Nasrudin as panelas do amigo. Por não as devolver veio este reclamá-las.
Disse o Mullah:
- Suas panelas faleceram. Se bem se lembra já decidimos em tempos idos que panelas são mortais.




A CADA UM SEGUNDO AS SUAS NECESSIDADES



Um mendigo pediu esmola ao Mullah.
Este questionou-o:
- Gosta de estar no café e de fumar?
- Sim.
- Gosta de ir aos banhos turcos? De beber, comer bem e de se divertir?
- Gosto de tudo o que é agradável – respondeu o mendigo.
Nasrudin deu-lhe uma moeda de ouro.
Uns passos à frente estava um outro mendigo que tendo ouvido o diálogo pediu também esmola a Nasrudin.
Este interpelou-o:
- Gosta de estar no café e de fumar?
- Não.
- Gosta de ir aos banhos turcos? De beber, comer bem e de se divertir?
- Não. Vivo na simplicidade e a rezar – respondeu o mendigo.
O Mullah deu-lhe uma moeda de cobre.
- Porquê?! - questionou o mendigo -, a mim, cumpridor da lei, pequena esmola me dás enquanto que ao devasso com ouro o honraste.
- Atenta que as necessidades dele são bem superiores às tuas – respondeu com convicção Nasrudin.




BEM PODE SER VERDADE



Nasrudin passeava. Garotos atiravam-lhe pedras, escarnecendo dele.
- Não façam isso, parem. Vou contar-lhes coisa que vos interessa.
- Tudo bem Mullah. Mas não se ponha com histórias e filosofias – responderam os miúdos desconfiados.
- Não. O Emir oferece hoje um banquete para todos.
Os miúdos correram para o palácio.
Nasrudin coçou a cabeça e começou a imaginar magnífica e lauta refeição. Então levantou o manto ligeiramente, correndo atrás deles.
- Será melhor ir para ver. Bem pode ser verdade.




A ASTÚCIA DE NASRUDIN



Nasrudin bateu à porta de um vizinho.
- Amigo, estou pedindo ajuda para um desgraçado, bom homem que não consegue pagar dívida antiga.
- Nobre atitude - disse o vizinho dando-lhe uma moeda de prata.
- Já agora Mullah, diga-me quem é esse homem?
- Eu mesmo - disse enquanto se afastava.
Ainda não estava decorrido um mês o Mullah bateu à porta do mesmo vizinho.
Este, precavido, disse:
- Novamente por causa de dívida, presumo?
- Tem razão.
- Suponho que seja você o devedor.
- Desta vez não.
- Prezo em ouvi-lo e à acção.
Entregou uma moeda que Nasrudin guardou.
- Antes de ir, diga-me, o que neste caso o fez pedir?
- Sou eu o credor – respondeu Nasrudin.




ORAÇÃO PARA A HORA DA MORTE



Um religioso erudito estava muito doente. Tendo ouvido falar do misticismo do Mullah decidiu aconselhar-se.
- Nasrudin, ensine-me uma oração que me auxilie a entrar no céu - disse.
- Certo, assim o farei.
Diga:
- Meu Deus ajude-me.
Satanás ajude-me.
Indignado com tal blasfémia exclamou o paciente:
- Está completamente louco, Nasrudin!
- Claro que não. Um homem na sua posição, com duas alternativas viáveis, deve por todos os meios fazer os possíveis e os impossíveis para que qualquer uma delas o favoreça – esclareceu-o convicto Nasrudin.




NÃO FUI EU QUE COMECEI, FOI ELE QUE COMEÇOU



Nasrudin entrou na mesquita com camisa demasiado curta. O fiel que o seguia decidiu puxá-la, ajeitando o desajeitado.
Nasrudin puxou de seguida a do homem que se lhe seguia.
Este questionou-o:
- Que faz, homem?
- Não me pergunte. Pergunte ao que me precede. Não fui eu que comecei, foi ele que começou – respondeu Nasrudin.




NASRUDIN DESMEMORIADO



Nasrudin foi à consulta:
- Doutor, não me consigo lembrar de nada. Nada mesmo.
- Diga-me em que momento isso começou? – questionou-o o clínico.
- Isso, isso o quê?




FENYANG – QUANDO É QUE IREIS PARAR DE COMPETIR?



Fenyang estava sentado à sombra de frondosa árvore no jardim da praça central da cidade. Junto dele, estavam alguns discípulos. Transeuntes movimentavam-se ansiosa e apressadamente, enquanto outros, se detinham nas lojas, vasculhando com o olhar os artigos expostos.
 Perto dele, dois homens sentados na relva queixavam-se da crise e dos seus negócios. Duas senhoras que passavam exaltavam as actividades profissionais dos esposos, e uma referia-se orgulhosamente ao seu vestido novo, modelo de colecção único, com desenho exclusivo de um dos mestres costureiros mais afamados da cidade.
Fenyang, com os olhos poisados em duas nuvens no céu azul, falou sem direcção:
- As pessoas seguem arbitrariamente os sentidos materiais, correndo como asnos.
Quando é que ireis, alguma vez, parar de competir?
Antes que deis conta, o cenário da Primavera transformou-se em Outono. As folhas caem, os gansos migram, a geada torna-se gradualmente mais fria.
Vestidos e calçados, que mais procurais?




ENSINAMENTO DE MESTRE LINGI



Dois jovens estudantes abordaram Lingi, lamentando-se. Há mais de cinco anos vagueavam pelo país, buscando o ensinamento de reconhecidos mestres, mas a cada dia a confusão mental e doutrinária aumentava. Se no início não tinham quaisquer certezas, agora estavam perplexos e desorientados.
Lingi sorriu amavelmente, e disse:
- É da maior urgência que procureis a percepção e compreensão reais e verdadeiras, para que possais estar livres no mundo e não serdes confundidos por espiritualistas vulgares.




CONFÚCIO - ULTRAPASSAR OU NÃO CHEGAR



O discípulo perguntou:
- Qual dos dois é o mais venerável? Che ou Chang?
O Mestre, disse :
- Che ultrapassa a justa medida e Chang não se aproxima dela.
Volveu o discípulo:
- Deve, então, preferir-se Che?
O Mestre respondeu:
- Ultrapassar não é um defeito menor que não chegar.




BUDA E A MEDITAÇÃO



Buda terá dito:
“Tal como no fundo do oceano não existem vagas, mas uma grande imobilidade, também o praticante deveria estar imóvel, inabalável e nunca agitado pelas vagas interiores.”




CONFÚCIO E O SEU DISCÍPULO PREFERIDO



O discípulo preferido do Mestre demonstrou intenção de viajar.
O Mestre, disse: 
- Sê fiel à tua palavra, ama o estudo, consagra-te ao caminho recto e prepara-te para que por ele te sacrifiques.
Não te dirijas para um país que ameace ruína e não residas onde reina a anarquia.
Se a justiça triunfar no mundo, dignifica-te; se a justiça estiver ausente, dissimula-te.
Se fores pobre e desdenhado num Estado onde reina a justiça, que vergonha! Se fores rico e honrado num Estado onde não haja justiça, que vergonha!




MESTRE ZEN BAOCHE E A NATUREZA DO VENTO



O Mestre Zen Baoche de Monte Mayu estava a abanar-se com um leque, quando um monge se aproximou dele e perguntou:
- Mestre, a natureza do vento é permanente e não há nenhum lugar que não alcance. Porque é que te abanas?
Baoche, respondeu:
- Embora compreendas que a natureza do vento é permanente, não compreendes o significado de ele tudo alcançar.
- Qual é o significado de tudo alcançar? - perguntou de novo o monge.
O Mestre continuou simplesmente a abanar-se. O monge inclinou-se profunda e reverencialmente.




INSTRUÇÃO DE BUDA AOS MONGES



Buda, tendo os monges reunidos junto a si, disse:
“Andai sobre a terra para benefício dos seres, para a felicidade dos seres, por compaixão pelo mundo, para o bem, para o benefício e para a felicidade dos deuses e dos homens.”




BUDA - A SETA ENVENENADA



Um homem dominado pela angústia existencial foi visitar o Bem-Aventurado querendo obter resposta conclusiva para as dúvidas que o atormentavam, para as questões filosóficas que lhe assoberbavam o espírito, antes de se dedicar à prática do budismo.
Como resposta, Buda disse:
- É como se um homem tivesse sido ferido por uma seta envenenada e dissesse ao médico que o quer curar: - Não o deixo tirar a seta do meu corpo enquanto não souber a casta, idade, ocupação, lugar de nascimento e motivação da pessoa que me feriu. 




CONFÚCIO - DEFINIÇÃO DE HOMEM DE BEM



O Mestre disse:
- Há nove casos aos quais um homem de bem está atento:
Ao observar procura ver claro;
Ao escutar procura ouvir bem;
Ao tomar uma atitude, procura que seja afectuosa e amigável;
No seu comportamento, esforça-se por ser humilde e modesto;
Ao falar, quer que as suas palavras sejam sinceras;
Ao ocupar-se dos assuntos públicos, dedica-se-lhes;
Ao duvidar, procura interrogar;
Ao zangar-se, pensa nas más consequências da cólera; e
Ao encarar um benefício, julga-o do ponto de vista da justiça e da honestidade.




A LEI DO KARMA É ERRÓNEA E ENGANADORA



No alto de um minarete, um sacerdote muçulmano chamava o povo para a oração.
Tal era o vigor e entusiasmo com que o fazia, deslumbrado com as suas próprias palavras, que se desequilibra caindo bem em cima de um sufi que por mero acaso ali passava.
O sufi teve de ser submetido a rigoroso tratamento no hospital da cidade, prevendo os médicos uma convalescença prolongada.
Os seus discípulos foram visitá-lo, e um deles, com carinho e reverência, questionou-o:
- Mestre, habituámo-nos a ver-te tirar benefício de tudo o que na vida te tem acontecido. Diz-nos então, a que conclusão chegais?
- Bom - respondeu o sufi com a calma e paciência que lhe eram peculiares - por via deste facto podeis ter a certeza de que a lei do karma é de todo errónea e enganadora. Segundo essa lei, a causa produz o efeito, quem semeia colhe o que semeou. Não obstante, foi o sacerdote quem semeou e fui eu o que colheu.




O BURRICO DE NASRUDIN



Alguém chegou esbaforido:
- Nasrudin, seu burrico desapareceu.
- Graças a Alá que eu não estava em cima dele senão teria desaparecido também.




O VERDADEIRO DESAPEGO



Um religioso disse:
- O meu desapego é imenso.
Nunca penso em mim, apenas nos outros, nos meus irmãos.
Nasrudin afirmou:
- E eu sou objectivo. Posso ver-me como outra pessoa. Assim, sou capaz de pensar em mim.




NASRUDIN E O MAR



Nasrudin viajou para ver o mar. As ondas desfaziam-se na areia, explodiam violentamente contra as rochas desfazendo-se em alva espuma.
O azul estendia-se ao céu do horizonte e tamanha vastidão dominava um Nasrudin extasiado.
À beira-mar, de joelhos, mãos em concha provou a água que de imediato cuspiu, dizendo:
- Lindo, pois sim, como é que coisa com tais pretensões, de tamanhas proporções, não é digna de se beber?!




A AVAREZA DE NASRUDIN



Nasrudin transportava dois cestos de uvas.
Algumas crianças pediam-lhe um cacho.
Deu um ou dois bagos a cada uma delas.
- Como é avarento Nasrudin - disseram.
- Claro que não – respondeu o Mullah.
- Vocês são crianças tolas, provando uma já sabem como as outras são.




AS PESSOAS SÃO COMO OS ANIMAIS



Nasrudin especulava:
- As pessoas são como os animais. Fazem o que eles fazem mas pensam que são diferentes.
- Não seja tolo. Se você tivesse razão os coelhos escreveriam livros tal qual gente - disse um religioso.
- Escreveriam sim, escreveriam se de quando em vez olvidassem o desejo urgente de comer cenouras.




O CAMINHO CERTO PARA A LIBERTAÇÃO



O espírito do discípulo estava completamente repleto de questões insolúveis.
As dúvidas assolavam-no, gerando-lhe uma intensa e terrível angústia.
Num momento de desespero, questionou o Mestre:
- Quando e como saberei que estou a traçar o caminho correcto na direcção da libertação?
O Mestre respondeu:
- Filho, não te angusties nem te consumas. Essas questões irão desaparecer naturalmente quando estiveres a pisar o caminho que conduz à libertação.




MEDO TERRÍVEL DE MORRER



Um homem disse a um rabino:
- Tenho um medo horrível de morrer.
O rabino disse.
- Tenho a cura para os teus medos. Todas as noites entrega-te ao sono como se fosses morrer.
Decorrido algum tempo, encontraram-se e o rabi perguntou-lhe:
- Seguiste o meu conselho?
- Segui.
- Quantas horas dormiste?
- Não faço ideia, rabi. Mas, mal me deitava adormecia e quando despertava, tinha a sensação de que acabara de me deitar.
- Tudo como se de um minuto se tratasse?
- Exacto, rabi.
- Quando se dorme não temos consciência do tempo que passa.




NASRUDIN E O POTE DE MEL A FERVER



Nasrudin tinha acabado de pôr mel a aquecer num tacho, quando inesperadamente surgiu um amigo.
O mel começou a ferver, Nasrudin retirou-o do lume e ofereceu um pouco à visita, depois de o ter vertido numa pequena tigela.
A visita, incauta, queimou-se.
Nasrudin, um tanto aflitivamente, muniu-se de um leque, correu para o fogão e começou a agitá-lo em cima do pote que ainda estava ao lume intentando arrefecer o mel.




COMO É QUE OS PÁSSAROS ENTRAM NO OVO?



Nasrudin passeava com o seu filho no parque municipal, quando se deparam com um ovo no chão, junto de plantas arbustivas rasteiras.
Perguntou a criança:
- Pai, como é que os pássaros entram no ovo?
Nasrudin confuso, disse:
- Durante toda a minha vida me questionei quanto ao facto dos pássaros saírem dos ovos, e agora vens tu gerar mais um problema na minha mente.




QUANDO ENCONTRARES A VERDADE...



Um sufi cuja sabedoria era pacificamente reconhecida na região, disse a Nasrudin:
- Caso encontres a verdade, agarra-a e não hesites, atira-a para o fundo de um poço.
Decorrido algum tempo, num trilho de campos cultivados, encontrou Nasrudin uma mulher cega que reclamou o seu auxílio.
Nasrudin dispôs-se a auxiliá-la, dando-lhe o braço e conduzindo-a ao seu destino.
A certa altura do trajecto, questionou-a:
- Há algum tempo que viajamos juntos e ainda não sei o seu nome. Qual é o seu nome nobre senhora?
- Verdade - respondeu a idosa.
A poucos metros, numa exploração agrícola encontrava-se um poço. Nasrudin não se fez esperar. Pegou-a ao colo e atirou-a para dentro dele.




sábado, 7 de maio de 2016

CONFÚCIO GRAVEMENTE DOENTE



Quando o Mestre estava gravemente doente, o senhor Meng King foi vê-lo.
O Mestre tomou a palavra e disse:
- Quando um pássaro vai morrer, o seu canto torna-se lânguido; está um homem para morrer e as suas palavras são suaves.
O caminho recto engloba três pressupostos que um homem nobre deve apreciar acima de tudo:
As suas maneiras e atitudes não devem indiciar orgulho e violência;
A sua atitude e o seu coração devem estar de acordo;
A forma de se exprimir e a entoação da sua voz, nunca devem ser grosseiras.




CONFÚCIO E O COMPORTAMENTO DO HOMEM DE BEM



- Qual deve ser o comportamento do homem de bem? – perguntou um discípulo ao Mestre.
O Mestre disse:
- É forte, mas não despreza os fracos, pedindo-lhes inclusivamente conselho.
É bem dotado intelectualmente, mas consulta o que é pouco dotado.
Possui boas qualidades, mas parece não as ter.
Está cheio e completo, mas parece estar vazio.
Tem a aparência de quem é sempre ofendido, mas que nunca ofende.
Este era o comportamento de um dos meus antigos amigos.




FRAUDE NO TEMPLO



Havia na Índia um templo, cuja administração era entregue rotativa e mensalmente a um grupo de monges mais velhos.
O que administrava juntava as esmolas recebidas dos fiéis e converti-as numa moeda de ouro que depositava num cofre, tradição cumprida durante muitas gerações.
Um dia, um dos monges em exercício de administração, pensou:
- Não há quem veja o que coloco no cofre. Desta vez, depositarei uma moeda de cobre e arrecadarei a diferença.
Assim o pensou, assim o fez.
Alguns anos após, o cofre foi aberto para se fazer a contagem das moedas de ouro, mas para espanto geral, a maior parte era de cobre...




PALAVRAS DE CONFÚCIO



Confúcio disse:
“Um homem nobre que age de modo estouvado não é respeitado e podemos dizer que os seus estudos são vãos.
Aprecia acima de tudo a fidelidade e a honestidade.
Não traves amizade com um homem que não é como tu.
Se cometeres um erro, não hesites em mudar de conduta.”




O PROFETA ELIAS E A ANUNCIAÇÃO DA LIBERTAÇÃO



Um Mestre do Talmude teve a visão do Profeta Elias. Aproveitando tal ensejo, questionou-o:
- Quando virás tu anunciar a Libertação?
- Será hoje mesmo, se escutares a Sua voz - respondeu Elias.




TEXTO ZEN DE GUETSU



O mestre Zen Guetsu escreveu para os seus discípulos:

“Viver no mundo e, no entanto, não criar apego ao pó do mundo é o caminho de um verdadeiro estudante de Zen.
Ao testemunhar a boa acção de outrem, encoraja-te a seguir-lhe o exemplo. Ao saber do erro de outrem, diz a ti próprio que o não deves imitar.
Ainda que estejas só, num quarto totalmente às escuras, age como se tivesses perante ti um respeitoso hóspede.
Exprime com franqueza os teus sentimentos, mas não te tornes mais expressivo do que a tua verdadeira natureza.
A pobreza é o teu tesouro. Nunca a troques por uma vida ociosa, de lazer.
Uma pessoa pode parecer um louco e no entanto não o ser. Poderá estar apenas a guardar cuidadosamente a sua sensatez.
As virtudes são o fruto da autodisciplina e não caem do céu por si próprias como a chuva ou a alva neve.
A humildade é o alicerce de todas as virtudes. Deixa que teus vizinhos te descubram, antes de te apresentares.
Um coração nobre não se força a exprimir-se. As suas palavras são como pedras raras, raramente expostas e de grande valor.
Para o discípulo sincero e honesto, cada dia é um dia afortunado. O tempo passa, mas ele nunca se deixa ficar para trás. Nem a vergonha nem a glória poderão nele influir.
Censura-te a ti próprio, nunca aos outros.
Não discutas o que está certo e o que está errado.
Algumas coisas, embora certas, foram consideradas erros crassos durante inúmeras gerações. Posto que o valor da rectidão pode vir a ser reconhecido séculos mais tarde, não há motivo plausível para ansiar por um reconhecimento imediato.
Vive com a causa e deixa os efeitos para a grande lei do universo.
Passa cada dia em tranquila meditação.”




O MONGE COM FRIO



Um monge estando em viagem, recolheu-se num templo. A noite estava particularmente fria e não iria conseguir sobreviver até à alvorada.
Queimou uma imagem de Buda talhada em madeira.

O que é o “sagrado”?




A ERVA, FLORES E ÁRVORES IRÃO ATINGIR A ILUMINAÇÃO?



- Será que a erva, as flores e as árvores irão acabar por atingir a iluminação?
O Mestre respondeu:
- Qual o interesse desse tipo de discussão. A verdadeira questão é a dúvida legítima que te deve preocupar quanto à tua própria iluminação.
Vai para os teus aposentos e medita nisso.




PALAVRAS DE SHOSAN



Shosan disse:
“O Budismo não é uma questão de usar o intelecto racional para governar o corpo. É uma questão de usar inteiramente o momento do presente, de forma imediata, sem o desperdiçar, sem pensar no passado ou no futuro.
É por isso que os antigos exortavam as pessoas a acautelarem-se, antes de mais nada, com o tempo: tal significa manter a mente liberta, varrendo dela todas as coisas, boas ou más, e desapegar-se do ego.”




MISTICISMO E COISAS MATERIAIS



Man-na disse a um estudante:
- Se quiseres atingir rapidamente o domínio de todas as verdades e ser livre em todas as circunstâncias, não há nada melhor do que concentração na actividade. É por isso que se diz que os estudantes de misticismo que se esforçam por encontrar o Caminho devem tomar assento no meio das coisas materiais.




MESTRE IQUIÚ E O PASSAMENTO DE NINACAVA



Mestre Iquiú visitou Ninacava no dia em que este se preparava para o passamento.
- Queres que te conduza? - perguntou Iquiú.
- Que ajuda podes tu conceder-me? Sozinho cheguei e sozinho partirei.
- Se pensas que aqui chegaste e que daqui partes, é essa a tua maior ilusão. Permite que te mostre o Caminho onde inexiste chegar e partir.
Com estas palavras, o Caminho estava revelado, nada mais haveria a dizer; Ninacava, com um amplo e sereno sorriso nos lábios, abandonou este mundo.




A SABEDORIA DE UM HOMEM QUE CORREU MUNDO



Perguntaram a um erudito que havia corrido mundo, se tinha algo a dizer sobre algum homem em especial que tivesse conhecido nas suas inúmeras viagens.
Respondeu:
- Viajei pelos sete climas, mas no mundo inteiro não vi mais do que um homem e meio.
A unidade foi um homem que morando numa zawya não falava nada de bom nem nada de mal de ninguém.
A metade era um homem excelente nisto, que das pessoas somente falava o bem.




LAMBARICE E AVAREZA



Nasrudin em visita à Índia viu um homem vendendo o que pensou serem doces. Guloso, comprou inúmeros chiles. 
Logo que comeu o primeiro lacrimejaram os seus olhos e o rosto ficou avermelhado por serem tão apimentados.
No entanto não se susteve, continuava a comer.
Um transeunte estupefacto comentou:
- Ouça amigo, chiles só poucos se comem.
- Pensava que eram doces – respondeu Nasrudin.
- Se já sabe o que são, qual o motivo porque não pára? Veja como ardem e fazem doer.
Tossindo, soluçando, com lágrimas a escorrer, Nasrudin disse:
- Não vou deitar o meu dinheiro a perder.




O PODER DO MEDO



Um rei incrédulo tendo ouvido narrar os poderes místicos do afamado Nasrudin, ameaçou-o:
- Enforcar-te-ei num ápice se não me demonstrares o teu misticismo.
- Vejo coisas estranhas, meu rei. Aves douradas nos céus, demónios nas profundezas da terra, anjos cantando a glória de Alá.
- Como podes tu ver o que não vejo? Ver através da terra, na lonjura do céu?!
- Medo, Majestade. Medo vos juro, é tudo o que necessito - respondeu o Mullah.




QUERER ESTAR DOENTE



Nasrudin aguardava com paciência na sala de espera do médico.
Ia repetindo:
- Espero estar muito doente... Espero estar muito doente.
Os outros pacientes já inquietos olhavam-no intrigados.
Nisto, surgiu o clínico.
Nasrudin retornou:
- Espero estar muito doente.
O médico não se conteve:
- Porquê, qual o seu prazer nisso?
- Doutor, seria detestável que alguém que tão mal se sinta de nada padeça.