HISTÓRIAS DE ESPIRITUALIDADE

HISTÓRIAS DE ESPIRITUALIDADE
A SABEDORIA DOS MESTRES

sábado, 10 de dezembro de 2016

OS VIVOS-MORTOS



Um homem de negócios foi visitar o Mestre. Este era tido como um reservatório imenso de sabedoria, e aquele, apesar de todos os seus afazeres não quis deixar de o conhecer, principalmente para tentar entender o desapego quase total que lhe atribuíam.
Na presença do Mestre, disse:
- Poderás tu dizer-me algo que possa melhorar a minha vida? Sinto que a felicidade me escapa pelos dedos, não obstante tenha tudo o que desejo.
- Já não és propriamente um jovem. Julgo que deverias dedicar-te um pouco à vida espiritual. A existência é muito mais do que a mera satisfação dos desejos da carne ou da matéria.
O homem respondeu:
- Tens razão. Mas o meu quotidiano é uma corrida contra o tempo. Tenho três grandes empresas para gerir, dezenas de lojas espalhadas pelo país, sucursais no estrangeiro, um activo imobiliário imenso, acções e mais de um milhar de empregados. Reúno com políticos, empresários, dou palestras de economia, entrevistas para revistas especializadas e para jornais do mundo inteiro, enfim, para nada mais me sobra tempo.
Depois de o ouvir, disse o Mestre:
- Estou certo, que quando faleceres, alguém dirá: - Morreu um homem cuja vida foi totalmente preenchida com futilidades e inutilidades. Um homem que em dezenas de anos não viveu em boa verdade um único dia. Um homem que viveu uma vida que não mereceu em momento algum ser vivida. 
Um homem que viveu morto.
Parabéns!




A ERUDIÇÃO OBSOLETA



O jovem visitava todos os dias o Mestre, deleitando-se com algumas das suas raras dissertações. Mas, o que mais o impressionava era a sua abertura de espírito, e a capacidade de pôr em dúvida e questionar fosse o que fosse. Não só o fazia, como instigava todos a que o fizessem.
Habituara-se a pensar com plena autonomia, a observar o mundo e a si próprio, sem recurso a tradições, fórmulas, crenças, opiniões. Os seus livros iam sendo progressivamente destruídos, e em sua casa apenas restavam dois, de uma biblioteca que chegara a ter cerca de três milhares. 
Uma noite de Inverno rigoroso, daquelas em que o frio gélido se entranha nas carnes, estando ambos sentados ao lume, disse o Sage:
- Tenho algo para ti. Algo que te pode ser precioso. Um livro que recebi do meu Mestre e que antes deste foi de extrema utilidade a várias gerações. Encontrarás nele a resposta a muitas das tuas questões.
- Não necessito de livros. Tudo o que aprendi de ti será muito mais do que esse amontoado de palavras me poderá oferecer. Assim continuarei – respondeu reverencialmente o jovem.
O Sage insistiu poisando-lhe o livro no colo. O jovem, inesperadamente lançou-o ao fogo crepitante, sendo de imediato consumido pelas chamas.
- Que loucura é que estás a fazer? – questionou-o o Mestre.
- Que loucura estás tu a dizer? – disse o jovem. 




O QUE É A MENTE?



Um monge questionou Ta-chu:
- As palavras são a Mente?
- Não, é evidente que não, as palavras são algo externo, uma manifestação externa.
- Então, Mestre, onde posso encontrar a Mente?
- Não há Mente além das palavras – respondeu Ta-chu.
- Estou confuso. Se inexiste Mente independentemente das palavras, o que é afinal a Mente?
- A Mente não tem forma, não tem imagens. Não depende nem independe das palavras. É de modo eterno, tranquila e livre no seu movimento próprio.




A IMPORTÂNCIA DO VAZIO DA MENTE



O discípulo perguntou ao Mestre:
- Porque insistes tanto no vazio da mente? Praticamente de nada mais falas.
O Mestre ordenou-lhe que fosse buscar um copo cheio de água. Quando o discípulo chegou, disse-lhe:
- Bate no copo com esta colher.
Ambos constataram um som vagamente surdo, apagado, sem vibração.
- Esvazia o copo. Agora bate de novo no copo como antes o fizeste.
O som era vivo e vibrante, e o discípulo entendeu.




MI-AN – O ATALHO DO ZEN



Mi-an disse:
- O atalho do Zen é deixar o presente e experimentar directamente o estado anterior ao nascimento, anterior à divisão da totalidade.




BUDA - O FIM DO MAL



O Iluminado disse:
“Bahiya, deves treinar-te assim:
No que vês só deve haver o que vês.
No que ouves só deve haver o que ouves.
No que sentes só o que sentes.
No que imaginas só o que imaginas.
Assim, deixará de haver “consequentemente”. É deste modo que te deves treinar. E, Bahiya, quando no que vês só houver para ti o que vês, no que ouves só o que ouves, no que sentes só o que sentes, no que imaginas só o que imaginas, no cognoscível só o cognoscível, então, Bahiya, como não terás um “consequentemente”, também não terás um “em virtude de”. E como tu, Bahiya, não terás um “em virtude de”, seguir-se-á que não terás “aqui” ou “além” ou “a meio caminho”.
É apenas o fim do mal.”




OS SUBSTITUTOS DO DEMÓNIO



Um místico passava os seus dias concentrado na união com o Absoluto.
Mas, um dia, começou a divagar, a sua concentração desvanecera-se, os pensamentos sucediam-se em cascata, a sua paz dissipava-se.
Angustiado, disse:
- Demónio, por que razão me perturbas?
O demónio, compadecido, disse-lhe:
- Ouve amigo. Tempos existiram em que o meu trabalho era árduo. Muitos havia a quem atormentar e eu desconhecia o tédio. Mas, agora, com tantos mestres falsos, gurus de encomenda e toda uma panóplia de vigaristas espirituais, são eles que fazem o meu trabalho, e pior do que isso, executam-no com perfeição.




DJIUNE – DICIONÁRIO AMBULANTE



Djiune era um estudioso e especialista de sânscrito da era Tocugava. Por tal motivo, estava constantemente a ser assediado para proferir conferências e palestras.
Sua mãe teve conhecimento de tal facto e escreveu-lhe dizendo:
“Filho, não creio que te tenhas tornado um devoto de Buda porque pretendias transformar-te num dicionário ambulante para os outros. Já há muita informação e comentário, honra e glória. Desejaria que terminasses essas tuas prelecções. Fecha-te num pequeno templo, num remoto ponto da montanha. Dedica o teu tempo à meditação e assim alcançarás o verdadeiro entendimento.”




LEI DE DEUS E LEI DOS HOMENS



Uns garotos começaram a lutar por um saco de nozes que haviam encontrado.
Nasrudin foi chamado para decidir.
- Que lei querem vocês que use na repartição das nozes? A dos homens ou a de Deus?
- A de Deus – disseram todos.
Nasrudin ia dividindo: Uma a um, a outro três, a outro seis e nada para os restantes.
Os que não receberam de imediato reclamaram:
- Que lei é essa que usaste? Que injustiça é esta?
- Meus filhos, apliquei a lei de Deus: A uns pouco, a outros muito e a outros nada.
Se escolhessem a lei dos homens seria diferente.




IQUIÚ – ALCANÇAR A NATUREZA DE BUDA



Iquiú foi um grande Mestre Zen.
Sua mãe, antes do passamento, deixou-lhe uma carta:

Terminei o meu trabalho nesta vida e regresso agora à eternidade. Desejo que sejas um bom estudante e alcances a tua natureza de Buda. Tu saberás se eu estou no Inferno e se permaneço contigo ou não.
Se te tornares num homem que compreende que Buda e o seu seguidor Bodhidharma são teus servos, poderás deixar de estudar e trabalhar para a humanidade. Buda pregou durante quarenta e nove anos e, em todo esse tempo, descobriu que não era necessário pronunciar uma só palavra. Deves saber porquê. Mas se não sabes e contudo desejas sabê-lo, evita o pensamento estéril.

P.S. – O ensinamento de Buda teve sobretudo o propósito de iluminar os outros. Se dependeres de qualquer um dos seus métodos, não passarás de um insecto ignorante. Existem oitenta mil livros sobre o Budismo, e se tu os lesses todos, mas continuasses a não ver a tua própria natureza, não conseguirias compreender sequer esta carta. Esta é a minha última vontade e testamento.




BUDA - O CAMINHO DO MEIO



O Senhor Buda disse aos discípulos:
- O meu coração alegrou-se. Fiz a descoberta pela qual todos anseiam. Descobri uma verdade tão profunda, praticamente impossível de apreender. Ela é serena, sublime, tranquilizadora, e não é alcançável pela razão. Só se manifesta ao sábio.
No entanto, o mundo entrega-se de corpo e alma ao prazer. Em boa verdade, os seres a muito custo poderão compreender a lei do condicionamento, a origem interdependente de todas as coisas existentes. Mas, existem seres cujos olhos apenas estão cobertos por um pouco de poeira; esses serão os eleitos e acabarão por compreender a verdade.
- Qual é afinal, a Nobre Verdade do Sofrimento?
O nascimento é sofrimento, a velhice é sofrimento, a morte é sofrimento, a dor, o entristecimento, a angústia, ansiedade e desespero são sofrimento. Não conseguir atingir os nossos desejos é sofrimento, em síntese, os cinco agregados da existência são sofrimento.
- Qual é a Nobre Verdade da Origem do Sofrimento?
O desejo que provoca um novo renascimento e que é escravo do prazer e da luxúria, encontra sempre novos deleites. Mas, de onde nasce este desejo e onde vai encontrar a raiz em que se apoia? Seja onde for que existam no mundo coisas deliciosas e agradáveis, o desejo emerge e enraíza-se. Olho, ouvido, nariz, língua, corpo e espírito são deliciosos e agradáveis: é neles, que o desejo nasce e se enraíza.
Os objectos visuais, os sons, os odores, os sabores, as sensações físicas e os objectos do espírito são deliciosos e agradáveis: neles o desejo nasce e enraíza-se.
A consciência, as sensações, os sentimentos nascidos das sensações, a percepção, a vontade, o desejo, o pensamento e o raciocínio são deliciosos e agradáveis: neles o desejo nasce e enraíza-se.
- Qual é a Nobre Verdade da Extinção do Sofrimento?
É o desaparecimento e cessação do desejo, a renúncia, o abandono, a libertação e o desapego da causa de todos os males. A cessação da cobiça, do ódio, da ilusão: a isto, na verdade, chamamos nirvana.
E para o discípulo assim liberto, com o coração pleno de paz, nada mais há a acrescentar ao que já foi feito e nada mais há para fazer. Tal como um rochedo permanece imóvel ao vento, também nem as formas, nem os sons, nem os odores, nem sabores de qualquer tipo, nem o desejável ou o indesejável podem demover o discípulo. Aquele que tem estabilidade de espírito alcança a libertação.
E aquele que é no mundo conhecedor de todos os contrastes, nele deixa de ser perturbado, aconteça o que lhe acontecer. Aquele que está em paz, livre do ódio, do sofrimento e dos anseios, passou para além do nascimento e da morte.
A isto, não chamo erguer-se, nem passar além, nem permanecer, nem nascer, nem morrer. Não tem suporte, nem desenvolvimento, nem base. É o fim do sofrimento.
A partir deste momento, o propósito da Vida Santa não consiste em receber esmolas, honras ou fama, nem em adquirir concentração e conhecimento. Esta libertação é o objectivo da Vida Santa, sua essência e finalidade última.
- Qual é a Nobre Verdade do Caminho que conduz à extinção do sofrimento?
Entregar-se aos prazeres dos sentidos ou à auto-mortificação? O Buda Perfeito evitou os extremos, tendo encontrado o Caminho do Meio, que conduz à paz, ao nirvana.
Este é o Nobre Caminho Óctuplo, caminho que conduz à extinção do sofrimento:
Compreensão perfeita;
Pensamento perfeito;
Palavra perfeita;
Acção perfeita;
Meios de existência perfeitos;
Esforço perfeito;
Atenção perfeita;
Concentração perfeita.
Este é o Caminho do Meio, que o Buda Perfeito encontrou, que nos leva a crer e a conhecer, que é o Caminho que conduz à paz, ao discernimento e à iluminação.




CONSEQUÊNCIAS DO DESEJO DE VINGANÇA



Dois jovens guerreiros foram feitos prisioneiros de guerra e durante três anos estiveram detidos pelas forças inimigas.
No final do conflito foram postos em liberdade, após um cativeiro de grande martírio.
Nove anos depois da libertação, encontraram-se numa cidade comercial, tendo um perguntado ao outro:
- Lembras-te dos nossos carcereiros? Dos martírios a que fomos sujeitos?
- Não.
- Como é que os pudeste esquecer? Não há um único dia em que não sonhe com a merecida e justa vingança.
O outro, compassivamente, disse:
- Esquece-os quanto antes. Desde que saí daquele campo de prisioneiros nunca mais pensei nos nossos carrascos. Eu estive preso três anos, tu estás há doze.




A ILUMINAÇÃO DE SHANKARA



Shankara pertencia à casta dos brâmanes. Estes, sendo na Índia uma casta superior, recusavam-se e não toleravam qualquer contacto com pessoas de castas inferiores.
Certo dia, Shankara, passeava-se nas ruas da sua cidade, quando um trabalhador pária – a mais baixa das castas, desprezada por todas as outras – tropeçou, empurrando-o involuntariamente.
Shankara, num tom de extrema indignação, disse:
- Tem cuidado homem. Não vês que sou um brâmane? Como ousaste tocar-me?
O pária, recompondo-se da queda, respondeu:
- Senhor, estás a ser impulsivo. Nem eu vos toquei, nem vós me tocastes. Achais que o vosso verdadeiro ser é esse corpo, um mero pote de argila? Não sabeis vós, que o Eu real não é nem a mente, nem os sentimentos e emoções? Muito menos o sendo o corpo?
Shankara, o brâmane, baixou os olhos e prosseguiu meditando nas palavras do pária. Da sua boca haviam jorrado palavras de sabedoria que o tocaram profundamente.
Foi provavelmente este o acontecimento, que fez de Shankara o filósofo místico que tanto apreciamos e reverenciamos.




BUDA - O FIM DO DEVIR



O Senhor Buda disse a um discípulo repleto de dúvidas:
- Estando sujeito ao nascimento, à velhice, à doença, à morte, ao sofrimento e às impurezas, vendo o perigo na submissão a estas coisas e buscando o não-nascimento, a não-velhice, a não-doença, a não-morte, o não-sofrimento, a não-impureza, a suprema cessação da sujeição, o nirvana, acabei por o atingir.
Tenho dentro de mim o conhecimento e a visão: a minha libertação é definitiva. Este é o meu último nascimento. Deixou de existir devir para mim.




O TÚMULO DE NASRUDIN



O túmulo do Mullah tinha uma porta enorme com barras e cadeados de protecção. Ninguém deveria entrar sem ser pela porta. A última piada de Nasrudin foi:
- O meu túmulo não deve ter paredes à volta.
Na lápide inscrito o ano de 386, que traduzido por letras, técnica usual em túmulos sufis, expressa a palavra xuf, que significa “fazer com que uma pessoa veja”.
Talvez por isso, durante séculos se considerou que a poeira da sepultura era cura poderosa nas maleitas dos olhos.




LIVRE DO ÓDIO E DA REBELDIA



O Buda disse:
- Estou livre do ódio, livre da rebeldia. Fiz uma jangada perfeita; passei para o nirvana, cheguei à outra margem, venci a corrente; já não preciso da jangada. 
O meu espírito é obediente, livre de preocupações mundanas; foi bem-educado e bem subjugado, não há mais mal em mim.
Não sou servo de ninguém; com o que ganhei viajo pelo mundo inteiro, sem depender de quem quer que seja, de ninguém.




QUEM PODE SER CONSIDERADO O HOMEM PERFEITO



- Quem pode ser considerado o homem perfeito? – perguntou o discípulo.
O Mestre respondeu sem hesitar:
- O homem perfeito usa a sua mente como um espelho.
Ela nada aprisiona e nada recusa.
Recebe mas não conserva.




MESTRES O-SAN, HAKUIN E O SOM DE UMA MÃO A BATER PALMAS



A senhora O-San atingiu a iluminação. Havia estudado com o Mestre Tetsumon.
Um dia, visitou Hakuin, que para a testar, a questionou sobre o som de uma mão a bater palmas.
O-San, em vez de responder directamente, recitou um poema:

Em vez de escutar
O som de Hakuin
De uma mão a bater palmas,
Batam palmas com as duas mãos
E façam qualquer coisa!




O SOM DE UMA MÃO - O SOM SEM SOM



O Mestre Mocurai tinha um discípulo muito jovem, que insistia com este para que o iniciasse no Caminho. Mocurai, ou o Trovão Silencioso, como também era conhecido, considerava que ainda não havia chegado o tempo para iniciar o jovem nas questões mais profundas do Zen.
Mas, este insistia, e tantas eram as insistências, que Mocurai chamou-o à sua sala de meditação, dizendo:
- Consegues ouvir o som de duas mãos quando batem uma na outra. Agora, quero que me mostres o som de uma mão.
O jovem voltou para o seu quarto, com o problema a assoberbar-lhe a mente. Pela janela entrava o som de uma flauta de bambu entoando uma melodia serena. 
Na manhã seguinte, munindo-se de uma flauta, na presença do Mestre, imitou a melodia que tinha ouvido na noite anterior. Este comentou:
- Não rapaz, esse não é o som de uma mão; estás muito longe da verdade.
Voltou a meditar, e ouviu o som de gotas de água. Quando compareceu perante Mocurai, imitou-o. 
- Não, esse som é de gotas de água a cair num objecto metálico. Tenta de novo.
O problema era de difícil resolução. Ouviu o som do vento nas frestas do mosteiro e o da brisa matinal nas folhas das árvores e arbustos, das conversas longínquas dos homens que trabalhavam nos campos, das raparigas a cantar e que em ranchos voltavam para a aldeia depois de um dia de trabalho, da água do ribeiro que por ali perto passava. Todos Mocurai rejeitou.
O piar das aves, o sussurro da noite quieta, o ranger das madeiras, sons que também foram rejeitados,
Certo dia, o jovem apercebeu-se de que não tinha quaisquer outros sons para ouvir. Tinha ouvido tudo o que era audível, e, preparava-se para desistir, quando subitamente atingiu o satori.
Nada mais podendo ouvir, tinha atingido o som sem som, e com ele o som de uma mão.




PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO



Levantou-se, então, um doutor da Lei e perguntou-Lhe, para o experimentar:
“Mestre, que hei-de fazer para possuir a vida eterna?”
Disse-lhe Jesus:
“Que está escrito na Lei? Como é que lês?”
O outro respondeu:
“Amarás ao Senhor teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.”
“Respondeste bem”, disse Jesus, “faz isso e viverás”.
Mas ele, querendo justificar a pergunta feita, disse a Jesus:
“E quem é o meu próximo?”
Tomando a palavra, Jesus respondeu:
“Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores, que, depois de o despojarem e encherem de pancadas, o abandonaram, deixando-o meio morto. Por coincidência, descia por aquele caminho um sacerdote, que, ao vê-lo, passou ao largo. Do mesmo modo, também um levita passou por aquele lugar e, ao vê-lo, passou adiante. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, encheu-se de piedade. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirando dois dinários, deu-os ao estalajadeiro, dizendo: «Trata bem dele e o que gastares a mais, pagar-to-ei quando voltar». 
Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem, que caiu nas mãos dos salteadores?”
Respondeu:
“O que usou de misericórdia para com ele.”
Jesus retorquiu:
“Vai e faz tu também o mesmo.”

Lc. 10, 25-37




MUHAMMAD NAQSHBAND – NO CAMINHO DO SUFISMO



Muhammad Naqshband afirmou que no início da sua viagem no Caminho do Sufismo, conheceu um apaixonado de Alá, que lhe pediu para tomar conta de alguns cães e que lhes pedisse auxílio. Disse-lhe:
- Por causa do teu serviço a um desses pobres animais, atingirás uma grande felicidade.
Naqshband contou:
- Tomei essa ordem com a profunda esperança de encontrar o cão e receber a graça, por via da dedicação.
Certo dia, que estava com os animais, senti que um dos cães estava num estado supremo de felicidade. Chorei junto dele, ao que se deitou sobre o lombo e levantou as patitas ao céu. Nisto, começou a emanar dele triste voz. Então, levantei as minhas mãos em súplica e comecei a dizer “Amin”, até que o cachorro se silenciou. Nesse momento, abriu-se-me uma visão, que me transportou a um estado onde senti que era parte de cada ser humano, e de cada criação neste planeta.




NASRUDIN INSATISFEITO COM O MUNDO



- Quando falecer como quer ser sepultado, Mullah?
- De cabeça para baixo. Neste mundo andamos sobre os pés, no próximo quero andar ao contrário.




MANTER O EQUILÍBRIO



Mestre e discípulo caminhavam há longas horas na direcção de um mosteiro vizinho ao seu.
O discípulo percorria a vereda em silêncio, mas pensativo. O Mestre percorria-a apenas.
Num dado momento, o discípulo interrompendo o silêncio perguntou:
- Mestre, como poderei eu encontrar o justo equilíbrio que fará com se extinga a ignorância, a ilusão e o sofrimento?
O Mestre permaneceu silencioso. O discípulo retornou com a mesma pergunta duas vezes mais.
Subitamente tropeçou numa pedra e estatelou-se no chão.
Disse o Mestre:
- Jovem, se não tens equilíbrio físico, se não consegues dotar as tuas próprias pernas da harmonia necessária para um caminhar seguro, como atingirás tu o equilíbrio que faz extinguir a ignorância, a ilusão e o sofrimento?




OS ERUDITOS SÃO LAVADEIRAS



No final de uma conferência na Faculdade de Filosofia, iniciaram-se os debates, tendo-se acendido intensa discussão metafísica.
Teorias desfilavam sem cessar. Ninguém deixava de demonstrar a sua erudição e os participantes embeveciam-se com as citações que proferiam.
O Mestre, que assistia com um discípulo disse:
- São como lavadeiras.
- Lavadeiras?!
- Sim, as lavadeiras têm sempre muita roupa nas suas casas. Só que não lhes pertence. Estes “eruditos” têm muitas doutrinas, teses e conhecimentos que também não lhes pertencem. Parecem cheios, mas estão vazios, ocos. São lavadeiras.




NÃO RECEBER OS INSULTOS



Buda partilhava os seus ensinamentos percorrendo a Índia. O Compassivo ensinava o Caminho da Libertação a todos os que se dispunham a ouvi-lo, nas cidades, vilas e povoados.
No entanto, em muitos lugares, era ultrajado, vilipendiado, mas jamais perdia a sua serenidade. A paz que emanava não era afrontada por quaisquer insultos.
Um dos discípulos que o acompanhava perguntou-lhe:
- Mestre, como podeis manter-vos imperturbável perante expressões tão injuriosas, actos tão reprováveis que vos atingem injustamente na vossa honra e consideração?
O Senhor Buda respondeu:
- Insultam-me, mas eu não recebo os insultos.




A VERDADE É INEXPRIMÍVEL



Um imperador era profundamente religioso, mas não professava nenhuma religião, não se atinha a qualquer método contemplativo em especial e não se subjugava a qualquer filosofia.
Para transmitir aos seus súbditos o facto de que a Verdade é inexprimível, pediu a um dos mais afamados escultores do império, que esculpisse uma estátua de rara beleza, que exprimisse a espiritualidade sem reservas, ou seja, sem quaisquer conotações limitativas da sua natural liberdade.
O escultor, durante meses talhou uma estátua de beleza inigualável e colocou-a num santuário construído para o efeito.
Logo que se abriram os seus portais, começaram as disputas, de que um dos ministros o informou detalhadamente:
- Majestade, no santuário há acesas disputas, insultos e agressões. Os hindus dizem que a estátua é de Krishna, os sikhs dizem que é do Guru Nanak, os muçulmanos asseveram que é de Maomé, os budistas garantem que é de Buda e os cristãos de Jesus. É grande e despropositada a agitação.
Depois de profunda, mas breve meditação, disse o imperador místico:
- Manda um esquadrão da minha guarda pessoal ao santuário. Ordena-lhes que dispersem os fiéis e que destruam a estátua. Encerrem também o templo, para que os operários o possam demolir. Este povo, apenas vê o resultado dos seus condicionamentos.




O SEM-SENTIDO DA VIDA – COMPREENDER O SENTIDO



O discípulo tinha estudado todas as filosofias, lido todos os filósofos mais marcantes e não encontrava sentido para a vida.
Angustiado, questionou o Mestre:
- Tem a vida sentido?
O Mestre respondeu:
- Os cedros ficam vermelhos no Inverno, os animais de carga recitam as escrituras, as nuvens tingem-se de verde, chove leite e a erva cresce viçosa para o interior da terra.
Volveu o discípulo:
- A minha pergunta prende-se com o sentido da vida. O que dizes não tem nenhum sentido.
O Mestre disse:
- São os olhos que falam e os lábios vêm.
- Tudo o que dizes não tem sentido.
Então, o Mestre disse:
- Como é que podes compreender o sentido da vida se não compreendes o seu sem-sentido?




O VERDADEIRO HOMEM DE ACÇÃO



Tseu-lu, questionou o Mestre:
- Se vos confiassem o comando de um grande exército, quem escolheríeis como segundo comandante?
O Sage disse:
- Eu não aceitaria o que sem armas defronta um tigre, nem o que atravessa um rio sem barca, nem o que se precipita para um perigo mortal sem que o seu coração esteja angustiado.
Escolheria, sem dúvida, o que planeia a batalha com prudência e sopesa as suas possibilidades antes de passar à acção.




É A MENTE QUE INVIABILIZA A ILUMINAÇÃO



Era um discípulo com pouca serenidade e paciência. Ansiava pela libertação, pela iluminação, mas quanto mais a desejava, mais longe do seu objectivo parecia estar.
Angustiado, dirigiu-se ao Mestre:
- Senhor, como poderei atingir a libertação?
- Não há nada que do exterior te possa aprisionar. É a tua mente que constrói os grilhões que te atormentam – respondeu o Sage.




ZEN - VER AS PESSOAS TAL QUAL ELAS SÃO



Tenkei foi indubitavelmente um dos maiores adeptos do Budismo.

A pedido de um dos discípulos escreveu o seguinte poema:

Quando nos sentimos a meditar,
Vemos as pessoas
Indo e vindo pela ponte da avenida
Exactamente como elas são.




QUAL A VERDADE? A NOSSA?



Nasrudin criticava as leis da cidade. Afrontavam a verdade, a autenticidade. O rei decidiu mudar a situação. A seguir ao portão de entrada ordenou a construção de uma forca com o seguinte édito:
- Todos serão interrogados. Quem falar verdade entrará, quem mentir morrerá.
Nasrudin, como sempre, foi o primeiro a entrar.
- Onde vai? – perguntou o chefe da guarda.
- Estou a caminho da forca – disse o Mullah.
- Não acredito.
- Muito bem, se estou a mentir enforquem-me.
- Mas se o enforcarmos por mentir o que disse será verdade.
- Então, descobriram a verdade, a vossa verdade.




DEUS NO NOSSO INTERIOR



Um discípulo disse:
- Mestre, ensinas que Deus está no nosso interior. Mas, como pode a vastidão, o incomensurável, estar no que é limitado pelo espaço-tempo?
- Vai ao Ganges e traz-me um litro de água – pediu o Mestre.
Quando o discípulo trouxe a água, o Mestre disse:
- Esta não é a água do Ganges!
- Como assim, Mestre, claro que é, fui eu mesmo que a recolhi?!
- Mas, onde estão os peixes, as tartarugas, os fieis que nele se banham, os monges que fazem abluções e os cadáveres que arrasta? Nada disto vejo nesta água. Vai e atira-a ao Ganges.
Quando o discípulo regressou, o Mestre disse:
- Agora, o teu litro de água misturado com a água do rio contém tartarugas, peixes e tudo o que antes não tinha. Essa é verdadeiramente a água do Ganges.




A AMPLIFICAÇÃO DO TEMPO



Um homem dirigia-se precipitadamente para uma localidade onde esperava realizar um bom negócio. Caminhava apressadamente pela margem de um rio; haviam-lhe dito que uns dois quilómetros a montante o conseguiria atravessar a vau. 
No entanto, a pressa dominava-o. Começou a construir uma jangada, o que lhe tomou mais de três horas.
Utilizando-a, atravessou para a outra margem.
Aí chegado o seu espírito começou a debater-se com um dilema: “Demorei cerca de três horas a construir esta jangada. Devo ou não abandoná-la?”
Decidiu carregá-la. A jornada era cada vez mais penosa. O peso parecia amplificar gradualmente e o seu esforço era imenso. O trajecto tornou-se insustentável e o tempo amplificou-se. 




AMAR VERDADEIRAMENTE A VERDADE



- Mestre, conheces alguém que ame verdadeiramente a verdade ou que abomine verdadeiramente o vício?
Confúcio respondeu:
- Nunca vi um homem que ame verdadeiramente a verdade ou que odeie verdadeiramente o vício.
Se alguém amar a virtude por nada a trocará.
Se detestar o vício, devotar-se-á à virtude a ponto de o vício nada poder contra ele.
Se se perguntar: haverá um homem, que durante um só dia empregue todas as suas forças para atingir a virtude, responderei: jamais vi um homem cujas forças não bastassem para isso. Mas, pode ser que um tal homem exista, mas nunca o encontrei.




VIVER E ENVELHECER SEM FAZER NADA



Enquanto esperava que o Mestre chegasse, Yuan Jang estava sentado de braços caídos e pernas afastadas.
Ao vê-lo, o Mestre disse:
- Aquele que na sua adolescência não respeita as grandes almas para nada serve quando se torna homem.
Aquele que vive e envelhece sem fazer nada, torna-se num fardo morto para a sociedade.
Nisto, deu-lhe uma bastonada na coxa. 




O TESOURO QUE NUNCA SE PERDE



Um homem enterra um tesouro num poço profundo, e pensa:
“Ser-me-á útil em tempos mais difíceis, se o rei ficar de mal comigo, se for roubado, se tiver dúvidas, se a comida faltar ou se a má sorte vier.”
Mas, esse tesouro pode nunca chegar a beneficiar o seu proprietário, se ele se tiver esquecido onde o enterrou, se os salteadores lho levarem, ou se inimigos ou até parentes lho tomem, enquanto distraído. Mas, graças à caridade, à bondade, à moderação e ao controlo de si próprios, os homens e as mulheres podem acumular um tesouro secreto, que não pode ser dado a outros e que os ladrões não podem roubar. Uma pessoa sábia pratica o bem e possui um tesouro que nunca perde.




A RIQUEZA DOS MENDIGOS



Dois mendigos bateram à porta de um rabino. O seu aspecto era miserável, denotando fome e sofrimento. Pediram-lhe por amor a Deus, que lhes desse algo para comer, já que há vários dias só haviam ingerido água e um pequeno pedaço de pão duro.
Disseram:
- Rabi, dá-nos algo para comer. Morremos de fome. Apenas temos este pequeno saco de trigo.
O rabino, compassivo, sentou-os à mesa e alimentou-os condignamente, como a quaisquer outros convidados. Saciados, agradeceram reverencialmente e pediram para que lhes guardasse o pequeno saco de trigo, ao que este acedeu.
O tempo passava e os mendigos não voltavam. O rabi pensou:
- Mais dia, menos dia, os ratos irão descobrir este trigo. Melhor será semeá-lo.
Então, semeou-o e ceifou-o no tempo próprio. E assim fez, por vários anos, até que o celeiro já não comportava mais cereal.
Um dia, os mendigos voltaram mais esfomeados do que antes, pedindo comida. O rabi conduziu-os ao celeiro e mostrando-lhes o trigo amontoado, disse:
- Tomem posse da vossa riqueza.




SUPERAR AS QUALIDADES DO COMUM DOS MORTAIS



- Mestre, conheceis alguém cujas qualidades superem a do comum dos mortais?
Confúcio respondeu:
- Que qualidades sublimes as de Yen Huei!
Ninguém como ele se contenta com tão pouco: arroz e água, e em pequenas quantidades, o essencial à sobrevivência. Habita numa ruela sórdida e estreita.
Outros não suportariam esta vida de miséria; mas ele está sempre contente com a sua sorte! Que carácter extraordinário!




DE LADRÃO A APRENDIZ DE SANTO



Um ladrão indiano entrou em magnificente propriedade vedada com o intuito de se introduzir na mansão para furtar.
Mas, mal saltou o muro, os cães do proprietário rodearam-no, ladrando de modo feroz, ameaçando despedaçá-lo.
Lembrou-se das palavras de um seu antigo mestre da arte, e vendo um monte de cinzas, espalhou-as pelo corpo e sentou-se imóvel, em estado similar ao de meditação.
Alertados pelos cães de guarda, os possuidores da casa apareceram acompanhados dos seus servos, espantando-se com a presença de tal homem. 
O dono disse:
- Este é sem dúvida um homem santo, a quem os cães nem ousaram tocar e se mantém impassível meditando. É uma grande honra o facto de ter escolhido a nossa humilde casa.
Quando o “santo ladrão” partiu, cobriram-no de presentes e pediram-lhe com reverência que intercedesse por eles junto dos deuses.
Ao partir, o ladrão pensou:
- Se por imitar a santidade fui assim tratado, recebendo tantos e tão valiosos presentes, talvez persistindo em verdade venha a receber a presença do próprio Deus.




AS NOSSAS VIDAS SÃO MAIS IMPORTANTES DO QUE BENS E LUCROS



Num porto comercial dos mares da China, múltiplos navios carregados de mercadorias preparavam-se para partir.
Os comerciantes foram avisados de que no mar se havia formado uma terrível tempestade, com ventos demoníacos e vagas alterosas.
Todos decidiram e convenceram os capitães dos navios a partir com as suas preciosas cargas e lucros chorudos. Afinal não era essa a sua profissão, o seu mester? Não tinham já enfrentado centenas de temporais?
Apenas um, disse:
- Capitão, sei que tens compromissos inadiáveis, que temos de nos aventurar no oceano, mas prefiro que não arrisquemos. Descarreguemos, pois, as mercadorias, já que as nossas vidas são bem mais importantes do que os bens e do que o lucro.
Os navios fizeram-se ao mar. No meio de grande tormenta, apenas o que não estava carregado conseguiu resistir, afundando-se todos os outros, com homens, bens e ambições.




QUAL A DIFERENÇA ENTRE UM HOMEM NOBRE E UM HOMEM VULGAR



- Qual é o homem nobre? Qual a diferença ou diferenças, o que é que na realidade distingue um homem nobre de um homem vulgar?
Confúcio disse:
- Um homem verdadeiramente nobre é o que considera como absolutamente essencial o dever de ser justo e que o cumpre, fielmente, e até ao fim.
O homem nobre nunca guardará a vida pelo preço da sua virtude; melhor ainda, estará sempre pronto a sacrificar-se em nome do bem.
Um homem nobre deplora as suas incapacidades e não deplora o facto de não ser apreciado segundo os seus próprios méritos.
Um homem nobre exige de si mesmo, um homem vulgar exige dos outros.
Um homem nobre respeita a sua dignidade, mas não discute com os outros; liga-se às pessoas, mas não às facções.
Um homem nobre não eleva a um grau de superioridade quem falou bem, mas também não denigre as boas palavras por causa de quem as pronuncia.
Um homem nobre pensa no estudo e na virtude e não receia a pobreza.




ATINGIR A ILUMINAÇÃO – ATENÇÃO NÃO É CONCENTRAÇÃO



Um jovem desejava ardentemente instruir-se. Na sequência dessa férrea determinação visitou um Mestre famoso, mas conhecido pelas suas poucas palavras.
Disse o jovem:
- Mestre, preciso do vosso auxílio. Instruí-me na senda da iluminação.
O Mestre olhou-o vagarosamente e num tom de voz afável, respondeu:
- Atenção.
- Sim, Mestre. Procuro sempre concentrar-me...
O Mestre interrompeu-o:
- Atenção não é concentração!
- Sendo assim, que mais me aconselhais para além da atenção?
- Atenção, só atenção.
- Diga-me algo mais – insistiu o discípulo.
- Atenção, sempre. Atenção, atenção.
- Mas, o que é que entendeis por atenção? – perguntou o jovem.
- Atenção é atenção. 




BUDA - A HISTÓRIA DA FLOR



Buda estava sentado num bosque, rodeado de discípulos. Todos aguardavam que iniciasse a prelecção. O silêncio manteve-se, até que colheu uma flor e a rodou junto do rosto com suavidade e doçura.
De todos os discípulos, apenas Shakyamuni entendeu o gesto do Mestre.
Buda disse:
- O método de meditação que ensino é aquele pelo qual podemos ver as coisas como elas realmente são, nada rejeitar e tratá-las com alegria, vendo com clareza a sua face original. Esse Dharma misterioso transcende a linguagem e os princípios racionais. O pensamento lógico não pode ser utilizado para obter a Compreensão; apenas com a sensibilidade da não-mente alcançareis a Verdade.




EDUCAR NÃO É TAREFA FÁCIL



O Mestre Zen Sengai tinha vários discípulos. Um deles, particularmente irreverente, costumava levantar-se a meio da noite. Saltava o muro do mosteiro e ia para a cidade divertir-se com outros jovens da sua idade.
Uma noite, lembrou-se de verificar os dormitórios descobrindo a cama vazia do monge. Apoiado na sua intuição, foi até ao muro e não se surpreendeu quando encontrou um banco que servira para o escalar. Retirou-o e colocou-se no seu lugar, aguardando pacientemente.
De madrugada, o discípulo saltou colocando os seus pés na cabeça e nos ombros do Mestre, caindo no pátio completamente desnorteado.
Sengai disse-lhe:
- De madrugada o frio é intenso. Cuida de ti jovem, tem cuidado, não te constipes.
O monge nunca mais saiu durante a noite.




SEM CONTEMPLAÇÃO NÃO HÁ MEDITAÇÃO – ENCONTRAR O BUDA NÃO BASTA



Muito poucos contemplam as montanhas e se detêm para olhar uma nuvem no céu. A maioria das pessoas olha, faz algum comentário e passa adiante. As palavras, os gestos e a própria emoção dificultam a contemplação.

Sem contemplação da natureza do que nos rodeia, inexiste meditação. 
Encontrar o Buda, não basta.




O AMOR MATERNO É IGUAL AO AMOR DE ALÁ PELAS CRIATURAS



Em Gorgán vivia um sábio afamado, que tinha na sua casa uma gata de quem gostava muito. Andava livremente pela casa, limitando-se a comer apenas o que lhe davam.
Um dia, foi à cozinha e furtou um pedaço de peixe da panela. O cozinheiro do sábio apercebeu-se e deu-lhe umas palmadas. 
A gata, entristecida, aninhou-se num canto da sala, demonstrando descontentamento. O sábio, apercebendo-se, cuidou de questionar o cozinheiro, que lhe narrou o ocorrido.
Face a tal facto, o sábio chamou a gata e questionou-a:
- O que é que te levou a cometer tal acção?
A gata saiu da sala e por três vezes retornou, trazendo todos os seus filhos recém-nascidos. Colocou-os aos pés do sábio, e foi refugiar-se numa árvore, abrindo os olhos bem grandes e guardando silêncio absoluto.
O sábio disse aos que o rodeavam:
- O delito desta gata é perdoável. Não o cometeu a pensar em si, antes nos seus filhos. A sua conduta nada tem de reprovável, pois o amor materno é algo tão prodigioso como o amor de Alá pelas criaturas. Enquanto não temos filhos, não estamos em condições de compreender tal solicitude. Este animal deve ter sofrido muito, peça-lhe pois perdão.




ESCOLHER UM MESTRE ZEN



Um dignatário do Império convidou os Mestres Da-yu e Yu-tang para o ensinarem na arte do Zen.
Yu-tang, tinha a noção da elegância e das palavras ocas da corte. Na presença do eminente senhor, disse:
- Pareceis-me um homem de inteligência superior e perfeitamente receptivo ao Zen. Isso irá trazer-vos benefícios num curto espaço de tempo; sereis com certeza um grande aprendiz do Zen.
Da-yu, sem suavidade, replicou:
- Que dizeis vós?! Não vislumbrais que estamos perante dura cabeça? Pode ter um cargo importante, pode ser reconhecido na corte, mas não entenderia o Zen, nem que este na cabeça lhe caísse.
O senhor tornou-se discípulo de Da-yu.